O Partido Comunista Português (PCP) tem mantido uma completa hegemonia política em Vendas Novas. O que acontece desde a Revolução dos Cravos.
Este facto teve a sua origem em razões essencialmente históricas, uma vez que a nível nacional foi a voz e o rosto mais visíveis das lutas contra a opressão a que o país esteve sujeito durante décadas. E aquele que, na sequência e no período que se seguiu ao 25 de Abril de 1974, melhor soube aproveitar as oportunidades para influenciar o andamento da construção das instituições democráticas. O que durou pelo menos até Novembro de 1975.
Mesmo após essa data, também ela decisiva para a instauração da democracia em Portugal, o PCP manteve uma larga influência em sectores da população que, por uma ou outra razão, estiveram mais receptivos ao tipo de mensagem veiculada através da organização que o partido já tinha conseguido estabelecer. O que aconteceu de forma mais significativa em algumas zonas do país, como foi o caso de Vendas Novas.
Logo desde as primeiras eleições autárquicas locais, e independentemente do perfil dos seus candidatos, o PCP tem ganho em todas as vezes, sempre com maioria absoluta em número de eleitos. Com a única excepção das eleições autárquicas de 2005, nas quais não conseguiu por muito pouco a maioria absoluta para a "Freguesia de Vendas Novas".
O PCP, tendo ao seu serviço um ou outro dirigente com verdadeiro perfil político, complementado pelo facto de ter criado e conseguido manter uma estrutura organizativa que lhe tem permitido não só o acesso privilegiado, como um certo tipo de controlo sobre a informação relevante para a vida e os destinos do concelho, tem mantido uma clara supremacia política ao nível local. E assim continuará algum tempo mais.
Esta hegemonia do PCP em Vendas Novas diz muito sobre a respectiva organização. E sobre a forma como tem conduzido os destinos da autarquia. Mas não só. Diz-nos, se quisermos ler o que aqui se tem passado nestes últimos trinta anos, também muito sobre o que tem sido a oposição em Vendas Novas. Oposição, na acepção do papel que tem sido desempenhado pelos principais partidos políticos concorrentes ao nível local, o Partido Socialista (PS) e o Partido Social Democrata (PSD).
O PS e o PSD, com estatuto de continuada oposição, sempre manifestaram diversos tipos de dificuldades no que respeita à sua implantação local. O que estará relacionado, em minha opinião, com a sua relativamente fraca capacidade de mobilização e com a manifesta insuficiência em incrementar os laços ou relações de maior proximidade com a comunidade.
Nas estruturas partidárias da oposição local, tanto quanto julgo saber, não tem sido famosa a evolução das respectivas militâncias em termos quantitativos. Embora os casos devam ser tratados de forma diversa uma vez que, de há três ou quatro anos a esta parte, se notam indícios de que o PSD esteja mais activo no que respeita à tentativa (e, pelos vistos, com relativo sucesso) de cativar mais jovens para a área da política. Trata-se de um trabalho de base que só poderá ter consequências a médio prazo, mas que se torna essencial para o futuro da política local. Tais indícios não se têm verificado no caso do PS, excepto nas proximidades de alguns períodos eleitorais.
As citadas dificuldades de implantação parecem ser bastante aumentadas pelo facto de, em virtude de os partidos da oposição não terem acesso durante tanto tempo às estruturas locais de decisão, estarem igualmente afastados das consequências positivas ligadas à criação ou manutenção de determinados laços de cumplicidade (uns e outros, no bom sentido), entre decisores e destinatários das políticas autárquicas.
Além disso, acresce o facto de cada um daqueles partidos ao nível local se debaterem (ainda hoje, ao que julgo saber) com alguma dificuldade em conseguirem sensibilizar de forma mais eficaz e com consequências práticas, as respectivas estruturas nacionais para a necessidade de existirem apostas mais fortes em Vendas Novas. O que tanto poderia ser visto ao nível da logística, especialmente em períodos eleitorais, como do apoio em acções de formação autárquica, estas últimas praticamente inexistentes no caso de Vendas Novas. Que me esclareçam, se estiver enganado, mas penso que não.
Ainda quanto à relativamente fraca capacidade de mobilização, é manifesto que ambas as estruturas locais (do PS e do PSD) teriam necessidade, qualquer que fosse a sua estratégia de implantação local, em cativar um maior número de pessoas para as acções a desenvolver. E o facto é que existe em Vendas Novas uma larga franja de população normalmente informada sobre as questões mais prementes da nossa vivência como comunidade mas que, ainda assim, se mantém afastada de tudo o que é política activa local. E terão, a meu ver, as suas razões para assim se manterem. Válidas ou não, isso é no mínimo discutível.
Uns, porque simplesmente a política não lhes interessa. Muitos, porque não querem ou receiam ver beliscados os seus interesses imediatos, pessoais, corporativos ou até laborais. Outros ainda, porque têm receios os mais diversos em tomar posição publicamente. Alguns, porque têm coisas mais importantes com que se preocupar. Os restantes, porque não estão suficientemente informados nem se preocupam em vir a estar. Os últimos, porque não se julgam capazes de assumir opiniões divergentes de forma sustentada. Os ainda não mencionados, porque a malta é jovem e isso da política é uma chatice. Seja qual for a razão, há demasiadas pessoas há muito tempo afastadas da política local. E temo que assim continue.
Esta reduzida implantação social dos partidos da oposição acaba, em minha opinião, por não ser nada benéfica para Vendas Novas. Desde logo, porque a ausência de uma oposição (mais) forte pode conduzir a que os destinos do nosso concelho sejam, ou continuem a ser, decididos de forma algo casuística. Ou com base em projectos pouco ou nada discutidos, ou cuja prioridade possa não ser a desejável. Ou seja, a existência de uma oposição social e política mais forte poderia levar, em meu entender, a que as decisões se baseassem em informação tendencialmente mais aprofundada. O que poderia beneficiar, não só o concelho, como o próprio agente decisor.
Chegará a altura, digo eu, de se porem de parte eventuais preconceitos ideológicos, que tanto mal fizeram e continuam a fazer ao desenvolvimento de uma discussão séria sobre o que realmente desejamos para o nosso futuro como comunidade. E que tem sido, a meu ver, uma das razões principais para que tanta gente com reconhecido valor e muito para dar à comunidade, continue a preferir afastar-se da vida política local.
A continuar como até aqui, a cidade e o concelho vão continuar a evoluir, sem dúvida. Mas vão também continuar, infelizmente, a existir não uma mas duas Vendas Novas. Lamentavelmente afastadas entre si, através de uma espécie de “muro ideológico”, que muitos insistem em perpetuar. E com o qual, aparentemente, de uma ou doutra maneira todos perdemos.
Por último, uma breve nota de carácter pessoal, para evitar determinados tipos de leituras sobre as opiniões aqui formuladas. Os que me conhecem, sabem que não tenho ligações e nem quero vir a ter, a nenhum dos partidos políticos em Vendas Novas, com excepção de laços de conhecimento pessoal ou de amizade com colaboradores em alguns desses partidos.
João Fialho
("alentejodive")
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