Unidade de Cuidados Continuados em Vendas Novas
Nos tempos que correm parece haver algum consenso no apontar de dois temas, “cuidados de saúde” e “protecção na velhice”, como os geradores de maior descontentamento entre cidadãos de baixos recursos financeiros.
Se entre os idosos não há, lamentavelmente, capacidade reivindicativa, nem condições para que isso aconteça nos anos mais próximos, já quanto à saúde, trata-se de uma área mais abrangente, que percorre transversalmente todas as faixas etárias. Logo, mais incómoda para os poderes instituídos.
Apesar desta maior exposição, o acesso em tempo útil aos serviços de saúde pública, ainda é o espelho da humilhação, do trauma e da quebra de dignidade, a que estão votados quase todos os que a ela recorrem.
A Santa Casa da Misericórdia, com um historial rico na prestação de cuidados de saúde, candidatou-se recentemente ao “Regime de Incentivos Saúde XXI”, destinado a criar, ou a adaptar, Unidades de Prestação de Cuidados de Saúde. A concretizar-se este investimento seria o realizar de um sonho que nos persegue a todos, Vendasnovenses, que olham para o seu Hospital com um misto de saudade e de carinho, por tudo aquilo que ele representou para esta população.
A Unidade de Cuidados Continuados de Longa Duração, prevista para funcionar com 28 camas nas instalações do antigo Hospital, é um investimento que justifica um esforço financeiro de grande monta. A recuperação do edifício e a sua reconversão em UCCLD está orçamentada em 800.000 euros. O equipamento ronda os 200.000 euros. Tudo somado, um milhão de euros. Como contrapartida, o Estado dá apenas metade deste valor e o Município comparticipa com menos de 90.000 euros, se for cumprido o previsto no protocolo de cooperação.
Resta assim à Misericórdia encontrar formas de financiar os mais de 410.000 euros que lhe cabem. Nada fácil nos tempos que correm. Tanto mais que as actuais disponibilidades já estão comprometidas com a construção da nova Creche.
Depois, há ainda dúvidas sobre a gestão corrente da Unidade. Nos moldes apresentados, o equilíbrio financeiro estaria aparentemente acautelado. Já quanto à funcionalidade do sistema nem tudo está clarificado. Se a selecção de utentes a internar ficar centralizada em Évora, conforme já foi ventilado, corre-se o risco de não termos Vendasnovenses a beneficiarem destes cuidados e a Unidade ficar ocupada por largos períodos com doentes oriundos de outras regiões do País. A mais-valia para nós, Vendasnovenses, seria neste caso algo relativa, ainda que a criação de mais de uma dezena de postos de trabalho seja não menos importante.
Por tudo isto parece que afinal o sonho não está assim tão à mão como inicialmente se previa. O edifício do antigo Hospital deverá continuar tal como está, desocupado e a degradar-se, e a figurar na nossa memória colectiva apenas como uma recordação do passado. Uma boa recordação do passado.
Manuel Filipe Quintas
Se entre os idosos não há, lamentavelmente, capacidade reivindicativa, nem condições para que isso aconteça nos anos mais próximos, já quanto à saúde, trata-se de uma área mais abrangente, que percorre transversalmente todas as faixas etárias. Logo, mais incómoda para os poderes instituídos.
Apesar desta maior exposição, o acesso em tempo útil aos serviços de saúde pública, ainda é o espelho da humilhação, do trauma e da quebra de dignidade, a que estão votados quase todos os que a ela recorrem.
A Santa Casa da Misericórdia, com um historial rico na prestação de cuidados de saúde, candidatou-se recentemente ao “Regime de Incentivos Saúde XXI”, destinado a criar, ou a adaptar, Unidades de Prestação de Cuidados de Saúde. A concretizar-se este investimento seria o realizar de um sonho que nos persegue a todos, Vendasnovenses, que olham para o seu Hospital com um misto de saudade e de carinho, por tudo aquilo que ele representou para esta população.
A Unidade de Cuidados Continuados de Longa Duração, prevista para funcionar com 28 camas nas instalações do antigo Hospital, é um investimento que justifica um esforço financeiro de grande monta. A recuperação do edifício e a sua reconversão em UCCLD está orçamentada em 800.000 euros. O equipamento ronda os 200.000 euros. Tudo somado, um milhão de euros. Como contrapartida, o Estado dá apenas metade deste valor e o Município comparticipa com menos de 90.000 euros, se for cumprido o previsto no protocolo de cooperação.
Resta assim à Misericórdia encontrar formas de financiar os mais de 410.000 euros que lhe cabem. Nada fácil nos tempos que correm. Tanto mais que as actuais disponibilidades já estão comprometidas com a construção da nova Creche.
Depois, há ainda dúvidas sobre a gestão corrente da Unidade. Nos moldes apresentados, o equilíbrio financeiro estaria aparentemente acautelado. Já quanto à funcionalidade do sistema nem tudo está clarificado. Se a selecção de utentes a internar ficar centralizada em Évora, conforme já foi ventilado, corre-se o risco de não termos Vendasnovenses a beneficiarem destes cuidados e a Unidade ficar ocupada por largos períodos com doentes oriundos de outras regiões do País. A mais-valia para nós, Vendasnovenses, seria neste caso algo relativa, ainda que a criação de mais de uma dezena de postos de trabalho seja não menos importante.
Por tudo isto parece que afinal o sonho não está assim tão à mão como inicialmente se previa. O edifício do antigo Hospital deverá continuar tal como está, desocupado e a degradar-se, e a figurar na nossa memória colectiva apenas como uma recordação do passado. Uma boa recordação do passado.
Manuel Filipe Quintas
5 comentários:
Unidade de Cuidados Continuados em Vendas Novas
Este tema é importante e merecedor do meu agradecimento ao seu autor por o ter trazido ao conhecimento e debate dos leitores do AL.
Da forma como o assunto está exposto, e para um leitor menos avisado, fica a ideia de que estamos perante uma iniciativa, isolada, da Santa Casa da Misericórdia local, uma iniciativa para a qual esta Misericórdia não dispõe dos necessários e avultados recursos financeiros; que o Estado, afinal todos nós, só estará na disposição de disponibilizar 500 mil euros, metade do investimento necessário para a recuperação do edifício e compra dos equipamentos necessário; que o Município, outra vez todos nós, apenas disponibiliza qualquer coisa como um pouco menos de 90.000 euros, e que o custo/benefício para os Vendasnovenses não está assegurado sendo a mais-valia algo relativa e não indo muito além da criação de uma dezena de postos de trabalho.
Finalizando, o sonho poder-se-á transformar numa quimera, tudo ficando como dantes e a figurar na memória colectiva como uma recordação do passado.
Espero ter feito uma síntese correcta do seu texto e que não o tenha, minimamente, adulterado.
Penso estarmos na presença de uma eventual candidatura a uma das valências de um novo serviço nas áreas Social e da Saúde, pouco falado nos meandros sociopolíticos, mas já com cerca de 9 meses de funcionamento e, talvez, justificando o imerecido silêncio, tem vindo a apresentar resultados bastante positivos na sociedade: a REDE NACIONAL DE CUIDADOS CONTINUADOS INTEGRADOS.
Trata-se de um modelo que promove uma dinâmica de parcerias regionais e locais, entre entidades do sector público, privado não lucrativo e privado lucrativo, assentando em dois pilares fundamentais e tão importantes como o Serviço Nacional de Saúde e a Segurança Social, constituindo objectivo geral da Rede a prestação de cuidados continuados integrados a pessoas que, independentemente da sua idade, se encontrem em situação de dependência.
Tendo como objectivo a manutenção do doente no seu domicílio, define três linhas de internamento distintas capazes de darem resposta às diferentes necessidades:
-Unidades de Convalescença destinadas ao tratamento e supervisão clínicas e de enfermagem, com uma duração prevista de internamento não superior a 30 dias;
- Unidades de média duração e reabilitação destinadas à reabilitação e ao apoio social por situação clínica decorrente de processo agudo ou crónico a pessoas com perda transitória de autonomia potencialmente recuperável, com uma duração prevista de internamento inferior a 90 dias;
-Unidades de longa duração destinadas à prestação de apoio social e cuidados de manutenção a pessoas com doença crónica e que não reúnam condições para serem cuidadas no domicílio e prevendo-se períodos de internamento superiores a 90 dias;
Estes serviços têm preços diferenciados, por utente, para cada uma das tipologias que integram as unidades de internamento e a unidade de ambulatório, respectivamente, para os cuidados de saúde e os de apoio social, estando devidamente regulamentados por Portaria dos Ministérios acima referidos, e aplicam-se às instituições e serviços integrados no Serviço Nacional de Saúde e às do sector privado, com ou sem fins lucrativos, no âmbito dos contratos acordados.
No fundo, estamos perante um “negócio”, no sentido mais altruísta do termo, em que há investidores públicos e privados, com ou sem fins lucrativos, que fazendo investimentos financeiros iniciais, mais ou menos comparticipados pelo Estado, todos nós, acabarão por receber do Estado, todos nós, e de cada um dos utentes e/ou familiares e de acordo com os respectivos rendimentos, o preço pelos serviços prestados e que, no acumular dos anos, conduzirá à amortização total dos investimentos efectuados e a uma valiosa fonte de lucros.
Convirá ainda dizer que o internamento em Unidades de Convalescença e em Unidades de Cuidados Paliativos não têm quaisquer custos para os utentes.
Uma nota final: longe de qualquer ideologia política, é caso para dizer que nem tudo vai mal no “reino” da saúde, apesar do “rei” ir mais ou menos nu, que há projectos que estão a ser implementados, este a que me refiro só termina em 2016, e que constituem uma grande mais-valia para todos aqueles que um dia tiverem a infelicidade deles necessitar.
O meu sincero agradecimento ao Marco António que fez uma síntese correctíssima dos desafios que se colocam aos responsáveis pela gestão da Santa Casa da Misericórdia, desafio igualmente extensivo aos sócios, que no próximo dia 8 de Julho vão ser chamados a pronunciar-se sobre esta candidatura, em Assembleia Geral Extraordinária convocada expressamente para o efeito.
Fica o meu apelo para que os sócios compareçam em grande número na AG e nela participem activamente, confrontando ideias e dando mostras do seu interesse pelo associativismo local em geral e pela SCMVN em particular.
Manuel Filipe Quintas
Por motivos profissionais não me foi de todo possivel estar presente nesta importante AG da Santa Casa.
Será que alguem que tenha estado presente pode fazer uma pequena explicação do que se passou ou foi discutido?
Obrigado
RC
Agradeço ao Sr. Ricardo Candeias o seu interesse pelo tema. Vou procurar resumir o que de mais importante se passou.
Atendendo à importância do assunto tratado, pretendia-se que a AG de ontem fosse bastante participada e nesse aspecto não foram defraudadas as expectativas.
Já quanto aos pontos tratados, contrariamente ao que alguns presentes esperavam, nenhum deles previa o sufrágio da decisão de se avançar ou não para a criação da UCCLD.
Tanto quanto sei (estou de férias) o estudo de viabilidade económica não está ainda concluído. Há dados que caem a conta-gotas e todos eles são importantes. É necessário algum conhecimento de causa e muita ponderação para não comprometer o futuro da Instituição.
A exposição feita pela Mesa Administrativa foi mais ou menos neste sentido tendo alguns dos presentes levantado questões pertinentes e sugerindo alternativas. Ficou no ar um claro indício que os sócios estavam ali para apoiar a obra porque a consideram importante para a comunidade e porque não querem ver morrer o “seu” Hospital desta forma inglória.
Foram ainda aprovadas as autorizações para a venda de património e contracção de um empréstimo.
Manuel Filipe Quintas
Sr. Manuel Quintas
Queira desde já receber os meus agradecimentos pela disponibilidade demonstrada em me ilucidar acerca da questão que coloquei.
E afinal as novas tecnologias tambem podem ser utilizadas com boas intenções. E explico porque digo isto, sinceramente penso que não conheço o Sr. Quintas, mas quando se fala dos assuntos de forma aberta e sincera, não há que ter temor em nos identificar-mos.
Mais uma vez muito abrigado ao Sr. Quintas e o desejo de umas ótimas férias.
RC
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