Comunidade chinesa em Vendas Novas: fenómeno ou globalização?
Nota prévia
Este é um texto longo. Acho que o tema o merece.
Nesta época conturbada e em rápida mutação em que vivemos, já nos habituámos a ver como sendo absolutamente normal a existência de comunidades chinesas em praticamente todos os concelhos do país, mesmo onde não seria suposto tal acontecer.
Esse fenómeno tem várias abordagens possíveis e apresenta determinados contornos, parte dos quais não irei abordar aqui no Atribulações Locais. Razão pela qual o texto seguinte tem apenas a intenção de ajudar a pensar sobre o impacto social e económico da existência desta comunidade em Vendas Novas, bem como sobre o papel a desempenhar pela autarquia. Nada mais.
Emigração portuguesa
Portugal tem sido, desde há muito, um país de emigração. Em tempos mais recentes, os destinos privilegiados foram países europeus, de que sobressaem a França, Alemanha e Suiça, especialmente nas décadas de 60 e 70 do século passado. Na sua grande maioria, esta emigração tinha por detrás razões eminentemente económicas, em face das difíceis condições de vida que então se verificava no país. Só a partir de 1974 se começou a notar um decréscimo significativo da emigração o que se deveu, por um lado, à alteração da conjuntura política em Portugal e, por outro, ao facto de os países de destino terem começado a implementar certas medidas restritivas para limitar o impacto desse fenómeno nas suas comunidades. Segundo dados conhecidos, é actualmente superior a quatro milhões o número de portugueses que vivem e trabalham no estrangeiro, sendo que aproximadamente metade estão no continente americano e uma terça parte na Europa.
Portugal como país de acolhimento
Nos últimos vinte anos, Portugal tornou-se também num destino para muitos imigrantes. Segundo defendem estudiosos nestas matérias, a manter-se o actual fluxo de imigração, é previsível que a curto prazo se atinja o número de meio milhão de imigrantes. Entre os países que mais contribuem para este fenómeno, contam-se os PALOP, o Brasil, do Leste europeu (com destaque para a Moldova, a Ucrânia, Rússia e a Roménia), da Península Indostânica (sobretudo a Índia e o Paquistão) e da China. Nos últimos anos, têm assumido particular destaque fluxos migratórios da Europa de Leste, do Brasil e da China.
Em relação à comunidade chinesa em Portugal
No que respeita à comunidade chinesa, estamos perante um fluxo migratório cuja motivação principal é de base essencialmente económica, em face das muito difíceis condições de vida (subsistem ainda situações de extrema pobreza em algumas províncias) que afectam várias regiões da República Popular da China. Os destinos preferidos dos chineses que procuram um melhor nível de vida parecem ser os EUA, o Canadá e o Reino Unido. Embora Portugal esteja entre os países de passagem, também é certo que tem aumentado de forma significativa o número de chineses a residir no nosso país. O último número oficial a que tive acesso (dados do ano 2003), referia cerca de 8400 chineses a viver em Portugal. Em termos geográficos, distribuíam-se essencialmente pelos distritos de Lisboa (2400), Porto (620), Faro (400) e Setúbal (280). O distrito de Évora contava apenas com 30 indivíduos, o que dá para perceber como os números poderão estar desactualizados. Actualmente, há quem estipule em cerca de 20 mil os chineses a viver em Portugal. E a tendência, pelos vistos, é para aumentar. Ao contrário de outras comunidades de imigrantes, por exemplo os de alguns países do leste europeu, os chineses residentes no nosso país apresentam, em média, qualificações académicas relativamente baixas.
Comunidade chinesa em Vendas Novas
Tanto quanto se pode observar, os chineses que vivem em Vendas Novas dedicam-se a negócios relacionados com restauração e lojas de produtos chineses. A sensação que dá é que se trata de uma comunidade muito trabalhadora e que também se caracteriza, pelo menos localmente, por alguma pacatez e uma certa simplicidade, ao mesmo tempo que denotam evidentes dificuldades em termos de uma verdadeira integração na comunidade local.
Os espaços comerciais em que desenvolvem as suas actividades situam-se ao longo da principal via que atravessa a cidade, o que parece fazer transparecer que a vertente imobiliária não terá sido desprezada. De facto, e de acordo com o que se sabe, a propriedade daqueles espaços estará em mãos de conterrâneos chineses. Nos casos em que os espaços comerciais são arrendados, os montantes em causa são usualmente bastante elevados.
Impactos ao nível social ...
Será que a existência desta comunidade tem algum tipo de impacto na comunidade local? Pois concerteza que sim. Desde logo porque Vendas Novas é, no essencial, uma terra de acolhimento. Que sempre aceitou quem a escolheu para viver e trabalhar. Nada indica que neste caso deva ser diferente. Trata-se, portanto, de um impacto positivo ao nível da “auto-estima local” e que nesse plano se enriquece, tal como já aconteceu com a chegada de outras comunidades ao longo dos tempos.
Por outro lado, porque com o passar do tempo e a previsível (?) (embora lenta) integração destas pessoas na comunidade local, Vendas Novas poderá ver acentuada uma das suas principais características: uma heterogeneidade relativamente pronunciada. Por outro lado ainda, porque há sempre ganhos ou vantagens sociais na troca de experiências culturais, especialmente quando tratadas ao nível local.
... e ao nível económico
E do ponto de vista da economia local, este fenómeno trará vantagens ou antes pelo contrário? Que dizem sobre isto os consumidores que recorrem aos restaurantes e lojas chinesas? E que dizem os proprietários de negócios similares já aqui instalados? E os responsáveis autárquicos, têm ou deverão ter algum papel a desempenhar nesta questão? E que diz o amigo leitor ou leitora, já pensou sobre isto? Vejamos o que em minha opinião se pode dizer sobre estes aspectos.
Comecemos por defender que, muito naturalmente, há um determinado tipo de consequência para a economia local, decorrente da existência de uma comunidade que era estranha a Vendas Novas e que passou a exercer aqui actividades económicas. Tal como qualquer outra comunidade que, nas mesmas condições, se venha instalar na localidade. Logo, o caso em análise até poderia não ter nada de particularmente preocupante do ponto de vista da economia local. Digo eu, numa primeira abordagem. Mas, vendo bem, será que não tem mesmo? Vejamos.
O importante papel regulador e preventivo dos órgãos autárquicos
Em primeiro lugar, é importante começar por reconhecer que nós devemos saber o que queremos para Vendas Novas. Ou, pelo menos, deveríamos saber. E é aqui que começa o importante papel que, também nestas questões, pode e deve ser desempenhado pela autarquia – o de criar condições para que se analise e se decida sobre que caminho se pretende para Vendas Novas, no que respeita também às políticas locais para recepção e integração de comunidades de imigrantes. As quais entroncam em políticas mais gerais de segurança e de desenvolvimento económico. Este parece-me ser um trabalho ainda não terminado em Vendas Novas, e digo isto sem querer fazer prevalecer qualquer espírito crítico.
Digo-o antes porque, desde logo, é importante percebermos que, se queremos continuar a beneficiar localmente de um clima de paz social e de segurança no dia-a-dia, torna-se vantajoso prever e antecipar a tendência local de evolução das várias comunidades de emigrantes. O que passa por algum planeamento nesta área e por levar à prática um trabalho de proximidade. Pois uma coisa é termos a viver e trabalhar em Vendas Novas uma ou duas famílias, por exemplo chinesas mas que poderiam ser de qualquer outra nacionalidade, e outra coisa é ter dez, vinte, trinta ou mais famílias.
E também não é, de forma alguma, indiferente existir apenas um restaurante chinês, como actualmente acontece, ou existirem 3, 4 ou mais. Tal como os impactos ao nível económico eram diferentes quando tínhamos apenas 2 famílias e 2 lojas de produtos chineses, em relação à situação actual em que temos 5 ou 6, irão abrir brevemente mais duas e, quem sabe? poderão no futuro instalar-se ainda mais algumas. No fundo, devemos olhar para estes fenómenos, tentar perceber o que realmente se passa e planear as melhores estratégias de abordagem da questão. Tudo está a acontecer mesmo à nossa frente, é só uma questão de nos interessarmos. O que os responsáveis não devem fazer é fazer de conta que não acontece. Quero acreditar que não é esse o caso em Vendas Novas.
Voltando à questão dos impactos ao nível da economia local
Mas afinal, dirá o leitor, todo este palavreado e ainda não disse se as lojas de produtos chineses vieram ou não concorrer com outras já anteriormente instaladas!? E se elas concorrem ou não entre si!? Bem, o leitor tem toda a razão. Vejamos, há aqui duas questões. A primeira é que só podemos defender que concorrem entre si, na medida em que a procura dos seus produtos é relativamente pouco elástica. Ou seja, a determinada altura, torna-se quase um jogo de soma nula: o que uns vendem passará a ser igual ao que os restantes deixam de vender. Se bem que, no princípio, já foi um daqueles casos em que, manifestamente e dadas as circunstâncias em concreto, a nova oferta criou a sua própria procura. Com o tempo, ver-se-á que continuarão a abrir e a fechar lojas de produtos chineses no concelho ainda que, em minha opinião, seja muito duvidosa a sua eficiência económica do ponto de vista do negócio a que se dedicam. O que, mais uma vez, até poderia merecer uma análise detalhada, mas devo dizer que não cabe no âmbito deste texto.
Em segundo lugar, só em parte se pode defender que concorrem directamente com as de outros empresários já instalados. Concorrem, mas não como se poderia pensar. Isto tem a ver com o facto de se tratar de um nicho de negócio muito específico e com as características da respectiva procura local por este tipo de produtos. A meu ver, estas lojas concorrem mais com os chamados “mercados mensais” do que com a oferta já existente a qual, aliás, se viu desde o início forçada a reestruturar os seus negócios, cessando actividade ou passando a oferecer produtos algo diferenciados. A concorrência directa existiu, portanto, numa primeira fase, com resultados muito negativos para os empresários que aqui se encontravam instalados (Lojas de Trezentos, Galinha Gorda, etc.).
Numa perspectiva estritamente económica, e tratando-se de uma economia aberta como a nossa e que queremos preservar, estamos perante situações que não têm nada de transcendente. As quais, além disso, eram relativamente previsíveis pois começaram por acontecer noutros locais do país, de há anos a esta parte. Apesar de tudo, arriscaria a dizer que os maiores impactos ao nível da economia local já se verificaram de início. No entanto, há uma “nuance” a ter em conta. É que estamos perante um espaço económico relativamente reduzido e que apresenta em média um poder de compra não muito elevado, apenas um pouco superior à média regional. Pelo que não poderemos estar sossegados, digamos assim, com a evidente tendência de aumento do número de lojas de produtos chineses em Vendas Novas. E com as respectivas consequências do aumento dessa oferta no que concerne à economia local.
Na verdade, esta tendência levará por certo ao aparecimento de outros impactos significativos na nossa pequena economia doméstica, designadamente no que se refere ao chamado Comércio Tradicional. Se até agora a concorrência destas lojas se fez, com os resultados que se viram, apenas em relação às então existentes Lojas de Trezentos e similares nada garante que, de futuro, essa concorrência não venha a alargar-se a outro género de comércio, como sejam as lojas de vestuário e calçado. Consequências existirão sempre, mais ou menos graves, depende do ponto de vista de cada observador. Ainda nesta perspectiva, seria muito interessante tentar perceber porque razões estão a abrir tantas lojas idênticas em Vendas Novas “ao lado umas das outras”. Embora não esteja na posse de informação que me permita ter certezas, creio que as razões não estarão directamente relacionadas com a economia local, mas sim com outros factores de carácter externo (deixo para os leitores esse exercício).
E que tem tudo isto a ver com a tal globalização?
Lembro-me de ter lido, há seguramente mais de 20 anos, um curioso livro de Alain Peyrefitte, que tinha sido diplomata francês na China. O livro chamava-se “Quando a China despertar” e a ideia que retenho é a de que se tratava de uma reflexão a propósito do que ele considerava ser um enorme potencial daquele país, ao mesmo tempo que se debruçava sobre os impactos significativos das suas relações futuras com o mundo ocidental. Na altura, não lhe dei a devida importância. Fiz mal, pois muito do que então li tem vindo a acontecer desde há alguns anos. E as suas consequências já se fazem notar mesmo aqui, em Vendas Novas.
O que tem isto a ver com a globalização? Tem tudo a ver. A globalização é um fenómeno que afecta, umas vezes de forma positiva outras nem tanto, diversas vertentes da nossa sociedade. E pode ser analisado sob inúmeras perspectivas diferentes. Uma delas é, desde logo, a vertente social, na medida em que a globalização intensifica as relações sociais à escala mundial de tal maneira que faz depender muito do que sucede ao nível local de acontecimentos que se verificam a enormes distâncias entre si. Até porque a própria globalização tem ajudado a alterar o conceito de distância. É exactamente este o caso em apreciação, por se relacionar directamente com a imigração chinesa em Vendas Novas.
Já na vertente económica, também se poderá defender que esse mesmo fenómeno da globalização está a influenciar a nossa economia local, uma vez que observamos localmente consequências do que se passa num país tão distante como a China. E não é só em função das actividades aqui exercidas pela comunidade chinesa. Esse, aliás, eventualmente até não será o problema maior no plano económico, pelo menos por agora. Que o digam os responsáveis de algumas das fábricas aqui instaladas perante as dificuldades que lhes são colocadas, quando concorrem internacionalmente com empresas sedeadas na China ou em alguns outros países asiáticos. Mas essa é uma outra questão.
Concluindo ...
Em resumo, quanto às lojas de produtos chineses, as quais se caracterizam, de momento, por vender produtos de baixo custo de produção a preços reduzidos, há que diferenciar o tipo de impactos que têm, ou não, na comunidade vendasnovense. Assim, em relação ao que verdadeiramente importa, são quase nulas as consequências ao nível da criação de emprego na população local, por motivos óbvios, o mesmo acontecendo em termos de criação de valor acrescentado (não acredito que este seja economicamente relevante, mas não estou a incluir a área da restauração), tal como no que respeita ao aumento da concorrência efectiva aos empresários já instalados, por se tratar de um nicho de mercado muito específico e porque, numa primeira fase, se viram obrigados a mudar de ramo. Um outro tipo de impacto e, até ver, eventualmente o mais significativo em termos futuros, dá-se ao nível do mercado imobiliário/arrendamento, mas aí com particularidades que fogem um pouco ao âmbito deste texto.
Não incluo propositadamente a área da restauração, pois a mesma merecerá uma análise algo diferenciada. No essencial, os restaurantes chineses concorrem directamente com os restantes estabelecimentos do género aqui existentes, com as necessárias consequências decorrentes desses facto. Em última análise, julgo que se trata apenas de “mais um” restaurante em Vendas Novas. Este tipo de concorrência acaba por ser algo diferente daquela que se verificou em relação às lojas de produtos chineses e teve um impacto significativamente menor.
Por outro lado, em toda esta questão não será de mais realçar o importante papel que pode e, em minha opinião, deve ser desempenhado pela autarquia, designadamente ao nível da regulação e da prevenção em articulação com as entidades nacionais existentes nestas áreas. Sem deixar de ter em conta que estamos numa sociedade e num mercado abertos, mas também em que todas as questões relacionadas com imigração, seja qual for o país de origem, passam por ter ou poder vir a ter, implicações ao nível da segurança, da paz social no interior da comunidade e da verificação de salutares condições de concorrência económica.
Por último, deixo aqui uma questão que pode parecer marginal a este assunto, mas que serve para comparação: os chamados “Mercados mensais”. Os quais, adianto já, a meu ver acarretam, pelo menos por enquanto, impactos ao nível da economia local da mesma ou de maior dimensão que o fenómeno das lojas de produtos chineses em Vendas Novas. Mas essa é igualmente uma outra questão que tenho a intenção de abordar no futuro, aqui no Atribulações Locais.
Diria mesmo o seguinte: em termos económicos, pior que os “Mercados mensais”, só mesmo o efeito combinado resultante da conjugação desses eventos com o incremento de lojas de produtos chineses em Vendas Novas. Seria, também por isso, muito interessante perceber o que desejamos para Vendas Novas, neste particular. E cada vez me convenço mais que sabemos menos do que seria desejável. O que é pena.
Este é um texto longo. Acho que o tema o merece.
Nesta época conturbada e em rápida mutação em que vivemos, já nos habituámos a ver como sendo absolutamente normal a existência de comunidades chinesas em praticamente todos os concelhos do país, mesmo onde não seria suposto tal acontecer.
Esse fenómeno tem várias abordagens possíveis e apresenta determinados contornos, parte dos quais não irei abordar aqui no Atribulações Locais. Razão pela qual o texto seguinte tem apenas a intenção de ajudar a pensar sobre o impacto social e económico da existência desta comunidade em Vendas Novas, bem como sobre o papel a desempenhar pela autarquia. Nada mais.
Emigração portuguesa
Portugal tem sido, desde há muito, um país de emigração. Em tempos mais recentes, os destinos privilegiados foram países europeus, de que sobressaem a França, Alemanha e Suiça, especialmente nas décadas de 60 e 70 do século passado. Na sua grande maioria, esta emigração tinha por detrás razões eminentemente económicas, em face das difíceis condições de vida que então se verificava no país. Só a partir de 1974 se começou a notar um decréscimo significativo da emigração o que se deveu, por um lado, à alteração da conjuntura política em Portugal e, por outro, ao facto de os países de destino terem começado a implementar certas medidas restritivas para limitar o impacto desse fenómeno nas suas comunidades. Segundo dados conhecidos, é actualmente superior a quatro milhões o número de portugueses que vivem e trabalham no estrangeiro, sendo que aproximadamente metade estão no continente americano e uma terça parte na Europa.
Portugal como país de acolhimento
Nos últimos vinte anos, Portugal tornou-se também num destino para muitos imigrantes. Segundo defendem estudiosos nestas matérias, a manter-se o actual fluxo de imigração, é previsível que a curto prazo se atinja o número de meio milhão de imigrantes. Entre os países que mais contribuem para este fenómeno, contam-se os PALOP, o Brasil, do Leste europeu (com destaque para a Moldova, a Ucrânia, Rússia e a Roménia), da Península Indostânica (sobretudo a Índia e o Paquistão) e da China. Nos últimos anos, têm assumido particular destaque fluxos migratórios da Europa de Leste, do Brasil e da China.
Em relação à comunidade chinesa em Portugal
No que respeita à comunidade chinesa, estamos perante um fluxo migratório cuja motivação principal é de base essencialmente económica, em face das muito difíceis condições de vida (subsistem ainda situações de extrema pobreza em algumas províncias) que afectam várias regiões da República Popular da China. Os destinos preferidos dos chineses que procuram um melhor nível de vida parecem ser os EUA, o Canadá e o Reino Unido. Embora Portugal esteja entre os países de passagem, também é certo que tem aumentado de forma significativa o número de chineses a residir no nosso país. O último número oficial a que tive acesso (dados do ano 2003), referia cerca de 8400 chineses a viver em Portugal. Em termos geográficos, distribuíam-se essencialmente pelos distritos de Lisboa (2400), Porto (620), Faro (400) e Setúbal (280). O distrito de Évora contava apenas com 30 indivíduos, o que dá para perceber como os números poderão estar desactualizados. Actualmente, há quem estipule em cerca de 20 mil os chineses a viver em Portugal. E a tendência, pelos vistos, é para aumentar. Ao contrário de outras comunidades de imigrantes, por exemplo os de alguns países do leste europeu, os chineses residentes no nosso país apresentam, em média, qualificações académicas relativamente baixas.
Comunidade chinesa em Vendas Novas
Tanto quanto se pode observar, os chineses que vivem em Vendas Novas dedicam-se a negócios relacionados com restauração e lojas de produtos chineses. A sensação que dá é que se trata de uma comunidade muito trabalhadora e que também se caracteriza, pelo menos localmente, por alguma pacatez e uma certa simplicidade, ao mesmo tempo que denotam evidentes dificuldades em termos de uma verdadeira integração na comunidade local.
Os espaços comerciais em que desenvolvem as suas actividades situam-se ao longo da principal via que atravessa a cidade, o que parece fazer transparecer que a vertente imobiliária não terá sido desprezada. De facto, e de acordo com o que se sabe, a propriedade daqueles espaços estará em mãos de conterrâneos chineses. Nos casos em que os espaços comerciais são arrendados, os montantes em causa são usualmente bastante elevados.
Impactos ao nível social ...
Será que a existência desta comunidade tem algum tipo de impacto na comunidade local? Pois concerteza que sim. Desde logo porque Vendas Novas é, no essencial, uma terra de acolhimento. Que sempre aceitou quem a escolheu para viver e trabalhar. Nada indica que neste caso deva ser diferente. Trata-se, portanto, de um impacto positivo ao nível da “auto-estima local” e que nesse plano se enriquece, tal como já aconteceu com a chegada de outras comunidades ao longo dos tempos.
Por outro lado, porque com o passar do tempo e a previsível (?) (embora lenta) integração destas pessoas na comunidade local, Vendas Novas poderá ver acentuada uma das suas principais características: uma heterogeneidade relativamente pronunciada. Por outro lado ainda, porque há sempre ganhos ou vantagens sociais na troca de experiências culturais, especialmente quando tratadas ao nível local.
... e ao nível económico
E do ponto de vista da economia local, este fenómeno trará vantagens ou antes pelo contrário? Que dizem sobre isto os consumidores que recorrem aos restaurantes e lojas chinesas? E que dizem os proprietários de negócios similares já aqui instalados? E os responsáveis autárquicos, têm ou deverão ter algum papel a desempenhar nesta questão? E que diz o amigo leitor ou leitora, já pensou sobre isto? Vejamos o que em minha opinião se pode dizer sobre estes aspectos.
Comecemos por defender que, muito naturalmente, há um determinado tipo de consequência para a economia local, decorrente da existência de uma comunidade que era estranha a Vendas Novas e que passou a exercer aqui actividades económicas. Tal como qualquer outra comunidade que, nas mesmas condições, se venha instalar na localidade. Logo, o caso em análise até poderia não ter nada de particularmente preocupante do ponto de vista da economia local. Digo eu, numa primeira abordagem. Mas, vendo bem, será que não tem mesmo? Vejamos.
O importante papel regulador e preventivo dos órgãos autárquicos
Em primeiro lugar, é importante começar por reconhecer que nós devemos saber o que queremos para Vendas Novas. Ou, pelo menos, deveríamos saber. E é aqui que começa o importante papel que, também nestas questões, pode e deve ser desempenhado pela autarquia – o de criar condições para que se analise e se decida sobre que caminho se pretende para Vendas Novas, no que respeita também às políticas locais para recepção e integração de comunidades de imigrantes. As quais entroncam em políticas mais gerais de segurança e de desenvolvimento económico. Este parece-me ser um trabalho ainda não terminado em Vendas Novas, e digo isto sem querer fazer prevalecer qualquer espírito crítico.
Digo-o antes porque, desde logo, é importante percebermos que, se queremos continuar a beneficiar localmente de um clima de paz social e de segurança no dia-a-dia, torna-se vantajoso prever e antecipar a tendência local de evolução das várias comunidades de emigrantes. O que passa por algum planeamento nesta área e por levar à prática um trabalho de proximidade. Pois uma coisa é termos a viver e trabalhar em Vendas Novas uma ou duas famílias, por exemplo chinesas mas que poderiam ser de qualquer outra nacionalidade, e outra coisa é ter dez, vinte, trinta ou mais famílias.
E também não é, de forma alguma, indiferente existir apenas um restaurante chinês, como actualmente acontece, ou existirem 3, 4 ou mais. Tal como os impactos ao nível económico eram diferentes quando tínhamos apenas 2 famílias e 2 lojas de produtos chineses, em relação à situação actual em que temos 5 ou 6, irão abrir brevemente mais duas e, quem sabe? poderão no futuro instalar-se ainda mais algumas. No fundo, devemos olhar para estes fenómenos, tentar perceber o que realmente se passa e planear as melhores estratégias de abordagem da questão. Tudo está a acontecer mesmo à nossa frente, é só uma questão de nos interessarmos. O que os responsáveis não devem fazer é fazer de conta que não acontece. Quero acreditar que não é esse o caso em Vendas Novas.
Voltando à questão dos impactos ao nível da economia local
Mas afinal, dirá o leitor, todo este palavreado e ainda não disse se as lojas de produtos chineses vieram ou não concorrer com outras já anteriormente instaladas!? E se elas concorrem ou não entre si!? Bem, o leitor tem toda a razão. Vejamos, há aqui duas questões. A primeira é que só podemos defender que concorrem entre si, na medida em que a procura dos seus produtos é relativamente pouco elástica. Ou seja, a determinada altura, torna-se quase um jogo de soma nula: o que uns vendem passará a ser igual ao que os restantes deixam de vender. Se bem que, no princípio, já foi um daqueles casos em que, manifestamente e dadas as circunstâncias em concreto, a nova oferta criou a sua própria procura. Com o tempo, ver-se-á que continuarão a abrir e a fechar lojas de produtos chineses no concelho ainda que, em minha opinião, seja muito duvidosa a sua eficiência económica do ponto de vista do negócio a que se dedicam. O que, mais uma vez, até poderia merecer uma análise detalhada, mas devo dizer que não cabe no âmbito deste texto.
Em segundo lugar, só em parte se pode defender que concorrem directamente com as de outros empresários já instalados. Concorrem, mas não como se poderia pensar. Isto tem a ver com o facto de se tratar de um nicho de negócio muito específico e com as características da respectiva procura local por este tipo de produtos. A meu ver, estas lojas concorrem mais com os chamados “mercados mensais” do que com a oferta já existente a qual, aliás, se viu desde o início forçada a reestruturar os seus negócios, cessando actividade ou passando a oferecer produtos algo diferenciados. A concorrência directa existiu, portanto, numa primeira fase, com resultados muito negativos para os empresários que aqui se encontravam instalados (Lojas de Trezentos, Galinha Gorda, etc.).
Numa perspectiva estritamente económica, e tratando-se de uma economia aberta como a nossa e que queremos preservar, estamos perante situações que não têm nada de transcendente. As quais, além disso, eram relativamente previsíveis pois começaram por acontecer noutros locais do país, de há anos a esta parte. Apesar de tudo, arriscaria a dizer que os maiores impactos ao nível da economia local já se verificaram de início. No entanto, há uma “nuance” a ter em conta. É que estamos perante um espaço económico relativamente reduzido e que apresenta em média um poder de compra não muito elevado, apenas um pouco superior à média regional. Pelo que não poderemos estar sossegados, digamos assim, com a evidente tendência de aumento do número de lojas de produtos chineses em Vendas Novas. E com as respectivas consequências do aumento dessa oferta no que concerne à economia local.
Na verdade, esta tendência levará por certo ao aparecimento de outros impactos significativos na nossa pequena economia doméstica, designadamente no que se refere ao chamado Comércio Tradicional. Se até agora a concorrência destas lojas se fez, com os resultados que se viram, apenas em relação às então existentes Lojas de Trezentos e similares nada garante que, de futuro, essa concorrência não venha a alargar-se a outro género de comércio, como sejam as lojas de vestuário e calçado. Consequências existirão sempre, mais ou menos graves, depende do ponto de vista de cada observador. Ainda nesta perspectiva, seria muito interessante tentar perceber porque razões estão a abrir tantas lojas idênticas em Vendas Novas “ao lado umas das outras”. Embora não esteja na posse de informação que me permita ter certezas, creio que as razões não estarão directamente relacionadas com a economia local, mas sim com outros factores de carácter externo (deixo para os leitores esse exercício).
E que tem tudo isto a ver com a tal globalização?
Lembro-me de ter lido, há seguramente mais de 20 anos, um curioso livro de Alain Peyrefitte, que tinha sido diplomata francês na China. O livro chamava-se “Quando a China despertar” e a ideia que retenho é a de que se tratava de uma reflexão a propósito do que ele considerava ser um enorme potencial daquele país, ao mesmo tempo que se debruçava sobre os impactos significativos das suas relações futuras com o mundo ocidental. Na altura, não lhe dei a devida importância. Fiz mal, pois muito do que então li tem vindo a acontecer desde há alguns anos. E as suas consequências já se fazem notar mesmo aqui, em Vendas Novas.
O que tem isto a ver com a globalização? Tem tudo a ver. A globalização é um fenómeno que afecta, umas vezes de forma positiva outras nem tanto, diversas vertentes da nossa sociedade. E pode ser analisado sob inúmeras perspectivas diferentes. Uma delas é, desde logo, a vertente social, na medida em que a globalização intensifica as relações sociais à escala mundial de tal maneira que faz depender muito do que sucede ao nível local de acontecimentos que se verificam a enormes distâncias entre si. Até porque a própria globalização tem ajudado a alterar o conceito de distância. É exactamente este o caso em apreciação, por se relacionar directamente com a imigração chinesa em Vendas Novas.
Já na vertente económica, também se poderá defender que esse mesmo fenómeno da globalização está a influenciar a nossa economia local, uma vez que observamos localmente consequências do que se passa num país tão distante como a China. E não é só em função das actividades aqui exercidas pela comunidade chinesa. Esse, aliás, eventualmente até não será o problema maior no plano económico, pelo menos por agora. Que o digam os responsáveis de algumas das fábricas aqui instaladas perante as dificuldades que lhes são colocadas, quando concorrem internacionalmente com empresas sedeadas na China ou em alguns outros países asiáticos. Mas essa é uma outra questão.
Concluindo ...
Em resumo, quanto às lojas de produtos chineses, as quais se caracterizam, de momento, por vender produtos de baixo custo de produção a preços reduzidos, há que diferenciar o tipo de impactos que têm, ou não, na comunidade vendasnovense. Assim, em relação ao que verdadeiramente importa, são quase nulas as consequências ao nível da criação de emprego na população local, por motivos óbvios, o mesmo acontecendo em termos de criação de valor acrescentado (não acredito que este seja economicamente relevante, mas não estou a incluir a área da restauração), tal como no que respeita ao aumento da concorrência efectiva aos empresários já instalados, por se tratar de um nicho de mercado muito específico e porque, numa primeira fase, se viram obrigados a mudar de ramo. Um outro tipo de impacto e, até ver, eventualmente o mais significativo em termos futuros, dá-se ao nível do mercado imobiliário/arrendamento, mas aí com particularidades que fogem um pouco ao âmbito deste texto.
Não incluo propositadamente a área da restauração, pois a mesma merecerá uma análise algo diferenciada. No essencial, os restaurantes chineses concorrem directamente com os restantes estabelecimentos do género aqui existentes, com as necessárias consequências decorrentes desses facto. Em última análise, julgo que se trata apenas de “mais um” restaurante em Vendas Novas. Este tipo de concorrência acaba por ser algo diferente daquela que se verificou em relação às lojas de produtos chineses e teve um impacto significativamente menor.
Por outro lado, em toda esta questão não será de mais realçar o importante papel que pode e, em minha opinião, deve ser desempenhado pela autarquia, designadamente ao nível da regulação e da prevenção em articulação com as entidades nacionais existentes nestas áreas. Sem deixar de ter em conta que estamos numa sociedade e num mercado abertos, mas também em que todas as questões relacionadas com imigração, seja qual for o país de origem, passam por ter ou poder vir a ter, implicações ao nível da segurança, da paz social no interior da comunidade e da verificação de salutares condições de concorrência económica.
Por último, deixo aqui uma questão que pode parecer marginal a este assunto, mas que serve para comparação: os chamados “Mercados mensais”. Os quais, adianto já, a meu ver acarretam, pelo menos por enquanto, impactos ao nível da economia local da mesma ou de maior dimensão que o fenómeno das lojas de produtos chineses em Vendas Novas. Mas essa é igualmente uma outra questão que tenho a intenção de abordar no futuro, aqui no Atribulações Locais.
Diria mesmo o seguinte: em termos económicos, pior que os “Mercados mensais”, só mesmo o efeito combinado resultante da conjugação desses eventos com o incremento de lojas de produtos chineses em Vendas Novas. Seria, também por isso, muito interessante perceber o que desejamos para Vendas Novas, neste particular. E cada vez me convenço mais que sabemos menos do que seria desejável. O que é pena.
10 comentários:
Relacionado com este tema, não poderei deixar de contar um episódio bastante engraçada, 100% real, que se passou comigo há já alguns anos.
As gerações mais antigas, anos 40/50, recordar-se-ão, certamente, dos tempos em que as feiras anuais, Maio e Setembro, tinham lugar na rua torna junto à velha estalagens e, posteriormente, num largo algures no bairro do chafariz, mesmo junto ao eucaliptal do Sr. José de Sousa.
Se fizerem um esforço de memória recordar-se-ão, porventura, de um senhor chinês que, invariavelmente, ano após ano, em Maio e Setembro, nos visitava e era a alegria da “criançada” pois à época, pela variedade de brinquedos e bugigangas que apresentava, era uma das melhores “barracas”, senão a melhor que por aqui aparecia.
Os anos passaram, as feiras perderam importância e começaram, pouco a pouco, a dar lugar aos mercados que ainda hoje perduram; do tal senhor chinês, nunca mais ninguém viu o rasto, apenas nos ficou a memória da sua presença e das muitas alegrias que nos deu em criança com os seus engraçadíssimos brinquedos os quais, tendo presente as dificuldades económicas, a esse tempo, de grande parte da população, muitos terão feito várias feiras até serem, finalmente, vendidos.
No final da década de 70 frequentei, com alguma regularidade, um café/restaurante/snack-bar, em Lisboa, na Praça de Londres, e que tinha o nome de Café Paris.
Os anos em que frequentei aquele café, nesta sua última versão, praticamente desde a sua inauguração até ao seu fecho para dar lugar a um banco, permitiram-me, como é normal, estabelecer algumas amizades com os funcionários -e funcionárias deve dizer-se, ou não estivesse eu nos meu vinte e poucos anos -, sendo um desses funcionários “chinês” de gema, diria, o protagonista de toda esta história.
Um certo dia, melhor dito, uma certa noite, entre um copo e outro, não sei por que carga de água o terei feito, decidi perguntar ao meu barman daquele dia, o tal “chinês”, qual era a sua cidade natal, já que quanto ao país não tinha eu, pensava, qualquer dúvida. Quando me preparava para obter como resposta Xangai, Pequim ou qualquer coisa do género, a resposta seca, que me deixou pasmado, foi: VENDAS NOVAS!
Imaginam o que, num misto de alegria e estupefacção, terá acontecido naquela noite, agora entre dois conterrâneos -direi apenas que o bar naquela noite fechou tarde e passou a “Free”-, recordando os tempos passados e como tudo aconteceu com o seu nascimento, numa daquelas feiras, de Setembro, tenho a certeza já que é, também, o mês do meu aniversário
Há coincidências na vida que não lembram a ninguém!
Para concluir, direi que a apetência dos “chineses” por Vendas Novas já vem de longe e aquele “chinês”, apenas nas feições que apresenta, é tão Vendasnovense como eu!!!
(Peço desculpa pela extensão do post, mas tudo leva a crer que não é fácil falar de “chineses” em duas linhas…)
Acho um atraso de vida a feira mensal porque não traz qualquer mais valia para o Concelho ; prejudica os comerciantes locais e os tendeiros/vendedores 99% nem vivem em Vendas Novas , nem ninguém sabe onde pagam impostos ; se é que pagam .
Já o grande biólogo Charles Darwin defendia que todas as espécies tendem a adpatarem-se e a passarem a informação genética ao futuro da espécie, no entanto também defendia que só os melhor adaptados iriam prevalecer, ao que ele chamou Selecção Natural.
Ora bem, os tempos não mudaram muito nesse aspecto ao contrário do que possa parecer. Ainda hoje os melhores adaptados tendem a prevalecer e a distinguirem-se dos piores. Talvez não tanto como deveria ser porque ainda existem alguns "jobs for the boys" mas isso é outra conversa.
Por mim não me importo nada em que abram uma quantidade enorme de lojas de "canquilharia" e restaurantes de ementas duvidosas. Importo-me sim é quando não tem os mesmos deveres que um outro comerciante qualquer. Importo-me sim é quando as importações dessas "canquilharias" passam grande parte das vezes pela porta do cavalo e sem fiscalização. Importo-me quando há beneficios e facilidades na abertura dos tais "negocios" da china quando não os há para os moradores cá do burgo. Não me importo nada que tenham clientes, que vendam muito, que abram lojas e restaurantes em lugares históricos e pontos de referência local.
É tudo uma questão de mentalidade Portuguesa. Tudo o que é novo é apetecivel e fascinante. É cativante! Senão vejamos: A IURD chegou vindo do nada prometeu milagres, comprou de forma duvidosa grandes simbolos da história nacional, alugou grandes palcos de referência cultural, moveu multidoes e fez o milagre de tornar o bolso desses seguidores bem mais leve, a Selecção Natural actuou e onde está e o que é a IURD hoje em dia?
A moda da poluição auditiva ser um sucesso tambem foi interessante. Durante meses Zé Cabra entre outros atentados á musica portuguesa foram reis e lideraram tops. Ondem é que estão esses "grandes" senhores da musica hoje em dia? Foi o fascinio da novidade que os colocou no top, a tal mentalidade portuguesa, no entanto a selecção fez-se sentir e ditou regras.
A moda dos reality shows foi algo que durante muito tempo prendeu pessoas ao ecran para verem a vida privada dos outros. Nisso também somos muito bons, ver o que uma dezena de gente sedenta de sucesso fosse capaz de fazer para o atingir. Sexo, porrada, discussões foram temas de conversa do dia-a-dia de milhares de portugueses. Até abriram telejornais com a famosa "bujarda" que um recluso presenteou uma colega de cativeiro. Ainda hoje existem alguns laivos de "vale tudo para atingir o sucesso na televisão" mas... já não é o que era, já estamos fartos e já não mete piada meter 10 manfios numa casa ou num qualquer buraco e filmar o que por lá andam a fazer. Já tá visto! Chega! inventem outra coisa por favor.
Vai dai e inventaram as lojas dos chineses, não as mesmas pessoas que inventaram os reality shows é claro, porque esses não eram chineses acho eu. Poucas vezes lá entrei e não guardo bons momentos na memória. Está sempre um "puto" chines a comer atrás do balcão ou a brincar com um robocop made in china. Depois ou tenho tido azar ou é um problema técnico mas tudo o que lá compro é de uma qualidade enorme. Os parafusos que tenho em casa são sempre mais fortes que as chaves de fenda que lá compro. Os piscas de Natal se os ligares antes do dia 24 já não chegam ao dia 25. Ah! e as roupas não são muito indicadas para as maquinas de lavar por cá comercializadas, sofrem sempre do problema de redução de tamanho, da mudança de cor ou até mesmo o de evaporação.
Concluindo porque já vai longo, quero com isto dizer que mais tarde ou mais cedo a moda passa como todas as modas. Se não passar é porque afinal a "canquilharia" é resistente e prevaleceu na selecção natural das coisas. Vamos aguardar e não nos vamos preocupar muito com isso porque a vida são dois dias e o carnaval são três.
Sayonara (ou coisa do género para todos vós)
Confesso que me faz alguma confusão ver esta comunidade dedicar-se ininterruptamente à sua actividade, sem folgas, sem férias, 365 dias por ano, num ritual de exclusiva submissão aos valores do trabalho. Maus exemplos, digo eu.
Depois há ainda a curiosidade de sabermos como alguns destes estabelecimentos se tornam rentáveis ao ponto de atraírem e incentivarem a expansão desta comunidade. Com poucos clientes e elevados encargos com rendas e trespasses, é obra!
Estou deveras maravilhado com as histórias fantásticas e com a qualidade do que aqui se escreve. Anónimos? Pouco importa. Destes, venham mais… muitos.
Um excelente pensador anónimo este das 22:30, vem demonstrar que nos blogues os anónimos podem ser bem vindos. O mesmo com todos os restantes anónimos que já comentaram neste e noutros posts e, tal como eu, por aqui deixam os seus estados de alma anonimamente.
Mas houve uma coisa em que não concordei com o anónimo das 22:30. É quando ele escreve:
" mais tarde ou mais cedo a moda passa como todas as modas. Se não passar é porque afinal a "canquilharia" é resistente e prevaleceu na selecção natural das coisas".
Pode ser que seja assim, mas até que tal aconteça já as lojas de "canquilharias" fizeram muito mal aos outros negociantes. Como diz o autor, muitos já fecharam e passou a ser um negócio com muito imobiliário.
" devemos olhar para estes fenómenos, tentar perceber o que realmente se passa e planear as melhores estratégias de abordagem da questão. Tudo está a acontecer mesmo à nossa frente, é só uma questão de nos interessarmos. O que os responsáveis não devem fazer é fazer de conta que não acontece."
Concordo. Só não se percebe é o que devem fazer esses responsáveis.
Está de parabens o Alentejodive.
Fez um muito bom trabalho de casa.
Parece-me que só se esqueceu de referir a "moratória" de dez anos que foi imposta à China antes de abrir-mos a fronteira aos seus produtos, particularmente aos téxteis, e que tinha por finalidade a preparação dos países, particularmente o nosso, para se preparar para a forte concorrência com os téxteis chineses.
Gostei particularmente dos textos deo leitores de 16/12.05 e 22.30.
Eu julgo que queria escrever "quinquilharia", correcto?
Um pequeno esclarecimento da minha parte, que me tenho batido um pouco contra os anónimos.
Julgo que todos entenderam que "nós" não gostamos dos "anónimos" que apenas o são para ofender e amesquinhar quem aqui escreve. Os outros, os que dão a sua opinião, contam uma história, ou fazem um comentário, concordante ou discordante...nada a objectar ao seu anonimato. OK?
Cumprimentos para todos.
Tem razão o amigo Talhinhas.
É que o problema com os "anónimos" não é tanto que pretendam manter esse estatuto.
O problema é quando alguns usam este estatuto para fins nada correctos. Pior ainda, quando o fazem pensando que essa condição lhes permite tudo, e mais alguma coisa. Enfim, ...
Quanto ao trabalho de casa, agradeço a atenção a esse facto. Devo, no entanto, dizer que algumas das coisas relevantes que consegui saber sobre esta matéria, são praticamente "impublicáveis" aqui no Atribulações Locais.
Por outro lado, espero que os amigos leitores já me tenham desculpado a extensão do post.
Serei talvez um dos principais responsáveis pela “cruzada” que tem vindo a ser feita em defesa do Anonimato.
Acabo agora, finalmente, por constatar de que não estou só nesta luta a qual, desde há muito, venho travando: Anónimo não é, por si só, sinónimo de “persona non grata” e, muito menos, a causa de todos os males da blogosfera e, sobretudo, do Atribulações Locais.
Dever-se-ão reconhecer aos Anónimos, aos bons anónimos, aqueles que, felizmente, começam a ter alguma expressão neste Blog, e que devem ser estimulados, para além das qualidades literárias e temáticas dos seus “posts”, quando as há, o direito que lhes assiste à sua total privacidade o que, em certos casos, pode até ser considerado como uma qualidade acrescida.
Dos outros anónimos, “as moscas varejeiras” que picam e fogem, não vale a pena falar agora e, com o tempo, assim creio, acabarão por desistir e procurar outras paragens.(passarão de moda!)
Quanto ao reparo, absolutamente acertado, da “canibalização” da letra “n” na palavra -quinquilharia -, o que tanto pode ser fruto de uma simples “gralha” como de um verdadeiro, e sempre lamentável, erro ortográfico, em qualquer dos casos perfeitamente desculpável, pouca importância terá se tomarmos em linda de conta o contexto onde está inserido; de facto, o “post” em questão, longe de ser “quinquilharia”, assume, indiscutivelmente, o brilhantismo de uma verdadeira obra de arte pós moderna, raramente por aqui vista.
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