esde há cerca de um mês, temos vindo a debatermos com o problema do "Encerramento das Urgências em Vendas Novas". É um assunto de extrema importância para a nossa comunidade e que a todos diz respeito. Pelo que tenho observado, se as coisas continuarem a seguir o rumo actual, todos em Vendas Novas iremos ficar pior servidos em termos de serviços públicos de saúde. Se já não estamos bem, e a verdade é que não estamos, com o encerramento do SAP e a não instalação do SUB-Serviço de Urgências Básico na nossa cidade, então iremos ficar ainda pior. E a situação em que nos encontramos hoje, leva-me a concluir que não estamos a atingir os objectivos desejados. Estamos, aliás, muito longe disso. É tudo isto que está em causa.
Do ponto de vista institucional, que o mesmo é dizer, por parte dos orgãos representativos do município - a Câmara Municipal e a Assembleia Municipal, foi levado a cabo o que seria de esperar em casos como este. O executivo camarário, em reunião extraordinária que teve lugar logo no dia 2 de Fevereiro (o dia seguinte à notícia pública da proposta de não-atribuição de um SUB a Vendas Novas), tomou algumas decisões que considerou apropriadas a este caso. Por seu lado, a Assembleia Municipal, também reunida em Sessão Extraordinária no dia 8 de Fevereiro, aprovou alguns documentos igualmente em reacção ao mesmo acontecimento. Quanto aos orgãos representativos da freguesia - a Assembleia de Freguesia e a Junta de Freguesia, o seu papel é evidentemente nulo nesta questão, em virtude de ainda não estarem constituidos, passados que são dois anos da data das últimas eleições autárquicas. Apesar de tudo, podemos dizer que as instituições democráticas locais tomaram o papel que lhes cabe em reacção a esta infeliz proposta. Será isso suficiente? Claramente, não!
Do ponto de vista dos partidos políticos, já muito se disse e escreveu aqui no "Atribulações Locais" quanto às reacções e iniciativas que tomaram, tendo em vista a resolução favorável desta questão. Na prática, cada uma das estruturas politicas locais tem tentado, à sua maneira, dinamizar determinado tipo de influências tendentes a uma solução que não penalize Vendas Novas. Apesar de tudo, tenho imensa pena que, sendo esta uma questão mais política do que técnica, não se tenha desde o princípio tentado a união das forças políticas locais no sentido de falarem a sua só voz, ou seja, para que existisse verdadeira conjugação de esforços e capacidades, de forma a maximizar as probabilidades de êxito nesta causa que é de todos. Tenho pena, e acredito que muitos de vocês, meus conterrâneos vendasnovenses, sintam o mesmo. No fundo, todos acabamos por perder com isso, mas é a realidade que temos. Será isto positivo para a luta em causa? Absolutamente, não!
Por outro lado, para quem tem estado atento a esta problemática, tem sido fácil notar que o Sr. Presidente da Câmara Municipal - o responsável máximo da nossa autarquia, se tem desdobrado em reuniões e encontros, audiências e entrevistas, e todo um conjunto de iniciativas que são aquelas que cabem às funções que exerce. Parece-me que tem mantido este assunto como primordial na sua agenda e felicito-o por isso. Tem obtido os resultados desejados? Infelizmente, não! Logo nos primeiros dias desta "crise" foi também criado um "Movimento de Cidadãos", o qual tem dinamizado determinado tipo de iniciativas, as quais conseguiram alguma adesão das populações e bastante divulgação em termos mediáticos. A criação deste movimento e a forma como tem funcionado apresenta contornos que, um dia, merecerão uma abordagem mais pormenorizada. No entanto, o que por agora importará a esta luta é o que de positivo o movimento tem ajudado a conseguir. Nesse particular, a meu ver este movimento tem funcionado essencialmente ao nível da divulgação desta causa na comunicação social. O que não é de somenos importância. Tem esse mediatismo sido suficiente para alertar e sensibilizar os responsáveis pela política de saúde? Não, de modo algum!
Perante tudo isto, passado sensivelmente um mês desde o anúncio público da não-atribuição de um SUB a Vendas Novas, qual é a situação actual? E a minha resposta é: estamos mal! Estamos muito longe de alcançar o objectivo principal que é, lembro, ter um serviço público de urgências a funcionar 24h/dia em Vendas Novas.
Mas porque chegámos aqui? No essencial, porque não conseguimos sensibilizar os responsáveis pela política de saúde da justeza da argumentação a favor desse objectivo. E a verdade é que nós próprios, vendasnovenses, não temos feito tudo o que podemos para ajudar a que tal seja conseguido. Essencialmente pela passividade, mas também pela falta de empenhamento nesta causa, e ainda pelo enorme défice de sentido crítico e de exigência em relação às instituições e aos responsáveis locais. Por tudo isso e também porque ainda não há, em Vendas Novas, a assunção de que somos uma comunidade unida em torno das questões essenciais ao nosso futuro colectivo. Simplesmente, porque não o somos. E contra isso ...
Chegados aqui poderemos perguntar-nos, todos nós que vivemos em Vendas Novas, o que pode ser feito para alterar o rumo dos acontecimentos? Bem, apesar do muito que já foi feito, e de algumas iniciativas já agendadas, a continuar assim, "não vamos a lado nenhum". E porquê? Porque a população já começou a interiorizar que não o vamos conseguir. Esse é um sinal que está patente em cada vez mais pessoas. Eu diria que já é uma reacção do dia-a-dia, prestes a generalizar-se. Ora, há que saber ler esses sinais, parar para analisar a actual conjuntura e redefinir estratégias. Os responsáveis políticos que não o fizerem, não estarão, a meu ver, a fazer tudo o que podem por Vendas Novas. Quando digo "responsáveis políticos", refiro-me a todos os que, de alguma forma, têm responsabilidades nos partidos políticos locais e nos diversos orgãos do município. Especialmente estes últimos, porque lhes está imputada a responsabilidade de representarem os interesses das populações e do concelho.
O que deve então ser feito? Em minha opinião, é urgente começar por despolitizar esta questão em termos locais. Isso, deveria ter sido feito logo a partir do primeiro dia. E não foi. Deste modo, em minha opinião não se deverá persistir no erro que tem sido a abordagem deste problema com enorme falta de união, por parte de alguns desses mesmos responsáveis. Há que saber criar condições para se utilizarem as sinergias políticas que derivam de se falar e de se apresentar em uníssono. O que deve ser feito em todas as reuniões, encontros, audiências e demais iniciativas em que seja importante mostrar aos responsáveis pela política de saúde que Vendas Novas está unida em torno desta questão. Para isso, há que ter a coragem de pôr verdadeiramente de lado os interesses partidários. Que não é, de modo algum, o que tem sido feito até agora.
Neste momento crucial, Vendas Novas precisa de quem faça tudo isto. De quem não se deixe ultrapassar pelas circunstâncias ou pela conjuntura. De quem não ponha eventuais interesses partidários à frente dos da comunidade. De quem tome as rédeas deste processo e não se enrede nas teias da politica local, manifestamente desajustadas dos interesses da população, no que a esta matéria diz respeito. De quem pare para pensar, para reequacionar procedimentos e redefinir estratégias. De quem consiga complementar o institucionalmente correcto com o verdadeiramente importante. Que é, apenas e tão só, gostar de Vendas Novas.
Em tudo isto, muito está ainda por fazer. Digo eu.
06.Março.2007
João Fialho