sábado, 10 de fevereiro de 2007

Fecho das Urgências de Vendas Novas - 11

Esta problemática do encerramento das Urgências em Vendas Novas tem-me deixado pensativo. Há nesta questão coisas que não percebo. Demasiadas. E sinto pena. No essencial, sinto pena por viver num país em que acontecem tantas situações e decisões infelizes, injustas, não justificadas e ainda menos esclarecidas. Como aquela com que agora nos debatemos.


Para a actual classe dirigente, é fácil justificar o que se está a passar. Tudo serve. Desde as dificuldades financeiras, ao défice, à crise crónica em que nos arrastamos desde há mais de dois séculos, senão mais, com pequenos interregnos que acabaram por não durar muito. Somos um país em crise. Esse é o nosso estado natural. Desde há muito que assim é. E ao contrário de outros, ainda não soubemos encontrar o caminho para sair dessa lamentável situação, à qual já nos habituámos. A certa altura, nem de tal já nos apercebemos. Vão-nos contando histórias, em que nós precisamos urgentemente acreditar, e acreditamos. Há de tudo um pouco, mas só para falar nas mais recentes, foi a Teoria do Oásis, a Expo98, o Euro 2004, a sempre adiada retoma da economia, ... e o que mais se verá. E nós, acreditamos. Somos assim, dificilmente mudaremos. E os nossos políticos sabem disso.

E chega um dia em que nos dizem: "sim senhor, Vendas Novas, não é? (isso fica onde?, no Alentejo?), ah, pois! vocês têm aí uma terra interessante, com a população a crescer, bem localizada, etc, etc, mas vai-se a ver, não podem continuar com o serviço de urgências. Temos ali ao lado um vizinho que por isto e por aquilo merece mais que vocês. Portanto, aguentem e calem."

É nesta fase que começamos a pensar. Coisa a que, bem vistas as coisas, estamos por cá muito pouco habituados. Bem, passada uma primeira fase de estupefacção, damos connosco a pensar (cá está, de vez em quando somos mesmo obrigados): "que não! nem pensar! não pode ser! Então se nos tinham dito que iríamos continuar com os serviços de urgências, e até que os mesmos iriam ser melhorados, agora sem qualquer justificação plausível dizem-nos exactamente o contrário? Não! Não" e mais Não!"

E de repente todos se começam a mexer. Uns, por obrigação de funções, mais que os outros. Os outros, porque começam a ver o futuro menos risonho, mostram-se solidários e esperam que os primeiros se preocupem e resolvam a situação. "É para isso que eles lá estão, não é? Para resolver os nossos problemas?", diz o povo ... desta vez sem razão.

A meu ver, é exactamente nesta fase que estamos agora. Infelizmente. Alguns, aliás muitos de nós, ainda pensaram (ingenuamente, digo eu), que a população se iria levantar em peso contra esta injustiça e lutar pelos seus direitos. E que os nossos políticos locais iriam, pelo menos desta vez, congregar esforços, definir estratégias comuns e lutar a uma só voz no plano político, em favor da população. Que o mesmo é dizer, deles próprios e de todos nós. Desiludamo-nos, já se viu que isso dificilmente irá acontecer. Mais uma vez, infelizmente.

E a verdade é que, por mais que nos apeteça queixarmo-nos, não temos a quem. Pois os políticos locais somos nós e nós somos eles. Os políticos locais são a nossa extensão, são aquilo que nós somos como povo, como comunidade. São aquilo que nós somos (como comunidade, quero eu dizer). Logo, merecemos o que temos e temos o que merecemos. Mesmo que isso nos custe a assumir. E custa, custa até muito, porque já nos apercebemos da forma como os nossos representantes estão a encarar este problema.

Mas como costumamos dizer: "a esperança é a última a morrer". Não é que isso seja sempre verdade, mas neste caso acho que devemos tentar que esta máxima se aplique. E ter esperança, desde já, que os nossos responsáveis políticos locais consigam ultrapassar, suspender, por de lado (ou seja lá o que for) as suas divergências e se entendam, como ainda não fizeram nesta matéria, de modo a que toda a comunidade lute a uma só voz. Isso, a meu ver, poderia aumentar significativamente as probabilidades de êxito.

A esperança é sempre importante. E justifica-se na maior parte dos casos. No entanto, só por si, não chega. A esperança, noutros casos, vejo-a assim como uma espécie de anestesiante dos conformados, em que não resolve nada, mas vai aquecendo a alma. Tudo isto para dizer que só ter esperança, não chega. Se cada um achar que perder definitivamente o Serviço de Urgências na terra onde vive é suficientemente grave, preocupe-se, veja como pode ajudar e tente fazê-lo. Esta é a minha proposta.