terça-feira, 10 de abril de 2007

Dossier "Eleições em Vendas Novas" - 2

Eleições para a Assembleia de Freguesia de Vendas Novas

Estamos novamente à beira de eleições autárquicas. Mais propriamente, de eleições intercalares para a Assembleia de Freguesia de Vendas Novas. Será de esperar que os resultados finais sejam idênticos aos que até aqui se têm verificado? Esta é uma pergunta fácil mas de resposta difícil. Sabemos, no entanto, que até agora e em todas as eleições autárquicas para a nossa Assembleia de Freguesia, com excepção da última (em 2005), uma das forças políticas concorrentes obteve sempre a maioria absoluta.

Na verdade, em 2005 a CDU não conseguiu essa maioria absoluta por uma diferença de apenas 3 (três) votos. Dito de outra forma, com apenas mais 3 votos na CDU teria sido evitada toda aquela problemática em torno da constituição da “Junta de Freguesia”, que acabou por demonstrar a fraqueza da nossa democracia local. Essa pequena diferença dá-nos uma excelente percepção da importância que pode ter o voto de cada um dos eleitores. Ora, se assim é, então porque persiste uma tão grande abstenção em eleições autárquicas em Vendas Novas? Tentarei abordar aqui esse tema em futuros textos.

Nessas eleições de 2005 para a Assembleia de Freguesia de Vendas Novas, a CDU obteve 2581 votos (6 eleitos), o PS 1845 (5) e o PSD 1098 (2). A distribuição dos respectivos eleitos, feita de acordo com o Método de Hondt, é como a seguir se indica:

Com recurso ao mapa acima, podemos concluir que se a CDU tivesse conseguido 2584 votos (+3), teria retirado o 13º eleito ao PS e, em consequência, obteria a maioria absoluta. Apenas 3 votos fizeram toda a diferença.


Eleições para a Câmara Municipal de Vendas Novas

E em relação às eleições para a Câmara Municipal, o que tem acontecido neste particular? Ao longo dos últimos 30 anos já se realizaram 9 eleições para as autarquias locais no nosso concelho. Em todas elas, sem excepção, a CDU (APU/FEPU/CDU) obteve a maioria absoluta. No entanto, a dimensão desse resultado tem-se alterado entre eleições, por vezes de forma significativa.


O gráfico acima pretende representar os votos que a CDU obteve em cada eleição, acima do mínimo que precisaria para a maioria absoluta, considerando apenas as eleições realizadas para a Câmara Municipal de Vendas Novas, entre a 1ª eleição pós-25Abril (em 1976) e a última (em 2005). Para efeitos desta análise, chamar-lhe-ei “votos neutros”, na medida em que a sua eventual não-existência não teria, na prática, alterado a constituição do órgão Câmara Municipal.

Como se pode constatar, essa diferença varia entre um mínimo de 168 (nas eleições de 2005) e 1184 (no acto eleitoral de 1989). De notar que o valor mínimo foi conseguido exactamente nestas últimas eleições autárquicas.

Nas eleições de 1982, que foi o 2º acto eleitoral em que a CDU ficou mais próxima do seu mínimo para atingir a maioria absoluta, mas ainda assim com uma margem consideravelmente satisfatória, acabou por obter o seu 3º melhor resultado de sempre em valores absolutos (3692). A oposição, no seu conjunto (PS + AD) obteve o seu melhor resultado de sempre até agora em Vendas Novas, também em valores absolutos (1203 + 2109 = 3312), relativamente próximo do conseguido em 2005 (2042 do PS + 1116 do PSD = 3158).

Em 2005, a perda de “votos neutros” por parte da CDU deveu-se essencialmente à variação negativa na sua votação global e menos à evolução das votações verificadas nos partidos da oposição. De facto, em 2005 a CDU conseguiu menos 350 votos que nas eleições anteriores (-10,8%) e menos 1287 votos (-30,8%) que o seu melhor resultado em eleições autárquicas locais para a Câmara Municipal, o que aconteceu no ano de 1985.

Por último, será de salientar que nas eleições autárquicas de 2005, a CDU obteve o seu mais baixo resultado de sempre em Vendas Novas, mas ainda assim largamente suficiente para manter a sua maioria absoluta em número de eleitos na Câmara Municipal.

Poderemos considerar que estes resultados indiciam algumas tendências? Tentaremos perceber isso mesmo em futuros textos sobre esse tema, aqui no “Atribulações Locais”.

6 comentários:

Anónimo disse...

O senhor desculpe-me a ousadia de entrar no assunto, pois não entendi como chegou a esse valor de faltarem só 3 votos. E os votos que diz que são neutros, afinal contam ou não contam para o cálculo dos vereadores?
A justificação deve ser fácil mas para mim não parece. Obrigada.

João Fialho disse...

Cara "leitora".

Se quiser fazer o favor de me enviar um endereço de email, terei todo o gosto em explicar-lhe com pormenor os cálculos de que me socorri. Poderei, inclusivé, enviar-lhe o meu ficheiro Excel com todos os cálculos a que se reporta.

No entanto, também poderá recorrer ao 1ºquadro deste post e, no sítio onde consta a votação da CDU (2581), acrescentar-lhe 3 votos e refazer os cálculos como lá consta.

Irá reparar que o último "valor a vermelho" na linha do PS (369,0), passaria a ser menor que o 7º valor da CDU. Nesse caso, a CDU passaria a ter 7 eleitos e o PS apenas 4, mantendo-se os 2 do PSD.

Qualquer dúvida, faça o favor de dispor.

Carla disse...

Beijokas........

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Ana Telha disse...

Caro João Fialho,

Há-que abordar estes temas com a seriedade que merecem e não recorrendo ao campo das hipóteses para formular qualquer tese acerca do que se gerou na Assembleia de Freguesia.

Em primeiro lugar, e como tive oportunidade de dizer no local apropriado, não podemos esquecer a importância dos 362 votos de diferença que existiram entre a CDU e os outros partidos. Esses 362 vendasnovenses tiveram uma palavra a dizer quando não votaram na CDU. Há também que tirar as devidas ilacções desse acto.

Em segundo lugar, não podemos falar de 3 votos quando o que está em causa são 40% de abstenção! Com certeza saberá que a CDU nunca vai buscar votos à abstenção (aliás, sabem perfeitamente quem não vota, não vá ser necessário um "empurrãozinho" até à urna mais próxima). Portanto, SE quiséssemos continuar no campo das hipóteses, também poderíamos dizer que, por 10 votos, o PSD ficaria com mais um deputado, mesmo que a CDU tivesse mais 3 votos, e a situação manter-se-ia.

E SE, pergunto, hipoteticamente, a CDU tivesse respeitado os resultados eleitorais (que, lamento desapontá-lo, não deram 2584 votos a essa coligação mas sim 2581), a situação não estaria igualmente resolvida?

Não tenhamos dúvidas. Estamos perante uma gritante falta de espírito democrático, digna daqueles que o PCP quis sanear depois do célebre 25 de Abril de 1974. SE o Sr. Joaquim Pedro quisesse, há 18 meses que teríamos uma AF e uma JF a funcionar na perfeição, em respeito pela vontade do povo expressa em Outubro de 2005.

Mas vamos a factos, deixemo-nos de hipóteses: a CDU desprezou a democracia, pelo que se viu forçada a demitir-se (sabe-se lá porquê só agora) e, em democracia, o PS vai voltar a estar nesta disputa eleitoral, sempre em defesa dos vendasnovenses e sem medo de maiorias relativas ou maiorias absolutas.

Cumprimentos,

Ana Telha da Silva

João Fialho disse...

Cara Ana Telha da Silva.
Gostei do texto do seu último comentário no "Atribulações Locais". Por várias razões.

Mas antes de lhe explicar o porquê dessa minha impressão, tenho que lhe dizer que faço um reparo sério a algumas das suas palavras. Esse reparo não o quero deixar aqui, pelo que lhe enviarei por email assim que tiver o respectivo endereço.

Vejamos então qual a minha opinião sobre o seu comentário. A Ana é das poucas pessoas que conheço em Vendas Novas que não mostra, ou aparentemente não mostra, relutância em utilizar a blogosfera local para fazer política partidária. Fá-lo no "Rosa dos Ventos" e fê-lo agora abundantemente neste seu comentário. Sinceramente, gosto deste tipo de atitudes.

Naturalmente, imagino que, tal como diz, também o fará nos "locais apropriados" que menciona. Mas, como compreenderá, já que eu não frequento esses locais, acabo por não perceber bem a que se refere, mas imagino que sejam os órgãos autárquicos locais.

A política é, a par do futebol, uma das actividades sociais que gera maiores paixões. Paixões, no bom sentido. Por outro lado, qualquer análise que seja feita com base em resultados eleitorais de carácter local e que respeitem à terra onde vivemos, tem sempre algo de subjectivo na medida em que dificilmente alguém conseguirá ser totalmente neutro em relação a
esse tema. Penso que concordará comigo nestas afirmações.

A conjugação desses factos, aliados á actual conjuntura política local, fazem-nos olhar, a cada um de nós, de forma diferente para os últimos resultados eleitorais para a Assembleia de Freguesia de Vendas Novas.

... continua ...

João Fialho disse...

Para uns, como é o meu caso, terão faltado 3 votos para a CDU conseguir a maioria absoluta. Atenção que eu nunca disse que desejaria (ou não) que tal tivesse acontecido. Outros, preferirão realçar o facto de a maior parte dos votantes não ter escolhido a CDU. Para alguns, o importante é quem ganha e quem perde. Outros ainda, darão especial relevo ao papel da elevada abstenção.

Estas diferentes leituras, a que se poderão somar ainda mais algumas, todas perfeitamente correctas do ponto de vista técnico, não tornam quem as faz nem mais nem menos sério, nem mais nem menos respeitador da verdade.

Na verdade, as diferentes leituras sobre uma mesma realidade são uma constante da vida. Tal facto deve-se, apenas, a que cada um de nós é
influenciado, queira ou não queira, pelo conjunto de valores, crenças e ideias pré-concebidas que consigo transporta. Em política, isso é uma verdade intrínseca.

Acontece amiúde eu estar em perfeito desacordo com opiniões que são colocadas sobre os mais variados temas, sem que por isso
tanto eu como o(s) outro(s) interveniente(s) deixemos de ter a nossa razão, ou as nossas razões. O mesmo acontece se eu preferir realçar um ou outro aspecto particular da questão em referência. Simplesmente, olhamos para uma determinada realidade e lê-mo-la de forma diferente.

Sem querer cansá-la com esta longa prosa, deixe-me por favor abordar só mais um ponto do seu "excelente comentário". É quando escreve "Com certeza saberá que a CDU nunca vai buscar votos à abstenção". Creia que tenho pena em desapontá-la. É que essa afirmação tem subjacente mais um daqueles casos que provam que o senso-comum às vezes nos prega partidas que não esperamos.

Porque digo isto? Pois, simplesmente, porque a análise estatística da evolução dos resultados eleitorais em Vendas Novas parece, até certo ponto, dizer-nos algo diferente. É curioso, não é? Se quiser, poderemos aprofundar esta questão.

Saudações