quarta-feira, 6 de junho de 2007

Fecho das Urgências de Vendas Novas - 37

Soube-se hoje que o Tribunal Administrativo e Fiscal de Beja deu razão à Câmara Municipal de Vendas Novas, quanto à providência cautelar apresentada contra a decisão do Ministério da Saúde de encerrar o SAP do nosso Centro de Saúde.

Na prática, esta decisão deveria suspender imediatamente a aplicação do novo modelo de funcionamento do Centro de Saúde de Vendas Novas. Mas o que me parece que vai acontecer, infelizmente, é que os serviços do Ministério da Saúde irão recorrer desta decisão. E depois ... sabe-se lá o desfecho final deste imbróglio?

Eu estou bem lembrado, e o amigo leitor também se deve lembrar, das palavras do Ministro da Saúde quando disse que "... com este novo sistema, nenhuma população ficará pior do que estava; e os serviços só encerram depois de garantidas as condições alternativas no acesso aos cuidados de saúde, o que será ponderado caso-a-caso juntamente com as autarquias".

Eu, se dissesse algo assim, teria o cuidado de cumprir. Mas não foi isso que aconteceu no caso de Vendas Novas. E o que se passa actualmente no nosso caso? Pois, o que se passa é que se fossem cumpridas escrupulosamente as instruções da ARS (Évora), os médicos e enfermeiros em serviço nas consultas no Centro de Saúde não atendiam nenhum caso urgente. Felizmente que o profissionalismo e a humanidade dos nossos Profissionais de Saúde em Vendas Novas, não tem deixado que tal aconteça. Pelo menos por agora. Mas, até quando?

Mesmo assim, apesar da abnegação e deste interesse pelo bem-estar das pessoas que reconhecemos nos nossos médicos e enfermeiros, desde o encerramento do SAP já tiveram lugar alguns casos graves, com residentes em Vendas Novas e na Landeira. Com consequências que não seriam as mesmas se as condições no acesso à saude fossem outras, mais consentâneas com a realidade de Vendas Novas.

Também pelo que julgo saber, os Bombeiros de Vendas Novas não estão apetrechados para atender a casos urgentes que necessitem de mais que uma ambulância em perfeito estado de funcionamento. Não temos, e ninguém sabe se viremos a ter, a apregoada ambulância medicalizada, que não resolvia mas minimizava os problemas. Num caso recente, que acabou na morte do doente/paciente, os meios de socorro urgente solicitados levaram demasiado tempo a chegar (disse-me quem sabe que demoraram cerca de uma hora a chegar).

Quem fala com os nossos médicos, enfermeiros e restante pessoal em serviço no Centro de Saúde, ouve sentimentos de constante insatisfação pela forma como as coisas estão a funcionar. Cumprem o seu trabalho, mas não acredito que consigam sentir-se bem com esta situação, da qual não têm qualquer responsabilidade. Ninguém se pode sentir bem, quando os serviços não têm condições para funcionar adequadamente. E depois, sente-se na população uma enorme frustração, em resposta a toda esta situação criada pelos decisores.

Actualmente, em relação a qualquer caso mais grave, o doente é desde logo enviado para Évora. Só que o Hospital Distrital, diz também quem sabe, tem hoje em dia um sistema de atendimento a casos urgentes que está "a rebentar pelas costuras".

Em Vendas Novas, nunca estivemos verdadeiramente bem servidos em termos de acesso a cuidados de saúde em casos urgentes. Mas o que existia (no SAP) ajudou a salvar muitas vidas. Hoje, o que não existe, ajuda no sentido contrário. E todos nós, sem excepção, estamos constantemente sujeitos a isso.

É por isto que me congratulo com esta decisão do Tribunal. Só tenho pena que não seja definitiva.

2 comentários:

João Fialho disse...

O blogue "O Jumento" refere-se hoje a este tema.

Deixei lá um comentário a discordar das conclusões que o mesmo apresenta sobre esta questão da "Providência cautelar".

bomdebola disse...

Desde que foi conhecida a intenção de encerrar o SAP de Vendas Novas, a Santa Casa da Misericórdia alertou a Administração Regional de Saúde do Alentejo para as consequências desta medida no universo dos quase 200 utentes que tem a seu cargo.

Face à incapacidade da Instituição de dar resposta aos casos que surgirão com o transporte e o acompanhamento dos seus utentes a Évora, em 28 de Maio, dia do encerramento do SAP, a SCM marcou a sua posição, declinando qualquer responsabilidade sobre as previsíveis consequências que advirão da falta de meios próprios para a prestação deste serviço. Vamos ver o que acontecerá quando surgir o primeiro caso.

Paralelamente, vimos a assistir nos últimos dias, no âmbito da política social, a algo nunca visto, permitindo algumas leituras curiosas. Com calendários previamente estabelecidos, o governo aposta a sua imagem numa panóplia de novos incentivos ao investimento, como é o caso das Creches, dos Cuidados Continuados de Saúde, etc. Tal como no caso do encerramento do SAP, feito à pressa e sem estarem criadas as condições alternativas para uma resposta eficaz, assistimos a uma pressão enorme dos serviços centrais para que as Instituições se comprometam a avançar com novos investimentos, ainda que estes compromissos se venham a revelar altamente deficitários no equilíbrio das suas contas correntes. O importante é apresentar resultados, ainda que comprometedores.