sexta-feira, 10 de novembro de 2006

À conversa com...

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Henrique Sertã, 82 anos, as palavras são sempre poucas quando se fala de um homem como este. Nascido e criado na Landeira sempre se demarcou dos demais pelo carinho especial que tem pela terra que o viu nascer, a Landeira. Fundador do Futebol Clube Agricula Landeirense, hoje Sporting Clube da Landeira. Dinamizador da recuperação da Igreja da Nossa Senhora da Nazaré e sobretudo um dos responsáveis pela muita da informação documentada conseguida sobre a Landeira. Aqui fica o registro duma tarde de domingo á conversa com Henrique Sertã.

Sr. Henrique, conte-nos a História da Landeira, uma vez que foi dos primeiros a tomar a iniciativa de procurar saber a história desta Terra.

A Landeira é uma terra muito antiga, já no ano de 1200 há registros de ter passado por aqui, em serviço, um geógrafo árabe, chamado Edrici. Nessa altura já existia uma estalagem, que era onde pernoitavam pessoas que por aqui passavam e foi por essa rua, a Rua da Estalagem, que esse dito senhor teve que passar. As pessoas pernoitavam na Landeira porque este era o único local na zona que tinha casas.

A Landeira no início tinha apenas três ou quatro casas e dessas três ou quatro casas, foi criada uma loja, o que na altura se chamava a venda, que servia só essas casas. O rei D. João I, chamou os moradores dessas casas, das quais fez escritura apenas a uma delas. O dono da casa que o rei D. João I deu a escritura, chamava-se João Lourenço.

Porquê o nome Landeira?

Tem este nome por terem sido construídas as três ou quatro casas situadas na região do montado, região com muitos sobreiros. Mas quem chamava a Landeira de Landeira eram os ingleses, porque Landeira vinha de Lande, fruto dos sobreiros.

Porque é que a chamada Estrada dos Espanhóis é tão importante na história da Landeira?

Com o passar dos tempos, a Landeira cresceu e havia duas estradas do Litoral para o Interior do país, ambas passavam por aqui, onde existia essa dita estalagem, por onde passava toda a gente com transportes a cavalo. Deste modo a Landeira começou a ter uma encruzilhada, porque aqueles que vinham de Vila Franca, passavam pela Landeira para ir para Espanha. Vindo do lado de Lisboa, quem viesse de Vila Franca, do Montijo ou do Barreiro, para ir para o lado de Espanha, passavam por aqui obrigatoriamente.

Viessem de que lado fosse, tinham que passar pela Landeira, ou seja, quem partisse do Barreiro, fazia o trajecto para o lado de Espanha do seguinte modo: Barreiro, Landeira, Cabrela, Montemor, Évora, Elvas e Espanha. Por outro lado, quem viesse da Moita fazia o trajecto para o lado de Espanha, passando por Moita, Palmela, Landeira, Beja, Mértola, passava pelo Guadiana, Algarve, Andaluzia (Espanha). Estes eram os caminhos que passavam pela Landeira, com destino a Espanha. Foi o eborense Mário Sá que pôs o nome à hoje chamada Estrada dos Espanhóis.

Dizem que o rei D. João II pernoitou aqui na Landeira. É verdade?

Passou por aqui o rei D. João II. Este tinha um cunhado, o Duque de Viseu, que era primo e cunhado ao mesmo tempo. O D. João II partiu de Setúbal com destino a Alcácer do Sal e passou pela Landeira, uma vez que veio por terra de charrete e cavalos. Quando o rei já ia de regresso, de Alcácer para Setúbal, ele era para ter ido pelo mar, mas foi avisado que o primo e cunhado Duque de Viseu o queria matar quando ele saísse da barca. Então, o rei voltou por terra e passou outra vez aqui pela Landeira, mas não dormiu aqui, como muita gente pensa. Quem dormiu aqui foi a Rainha mãe de D. Sebastião.

Qual a data de construção da Igreja de Nossa Senhora da Nazaré, a construção mais antiga do concelho?

Não se encontra em nenhum lado uma era concreta da construção da igreja da Landeira. Dizem que terá sido mais ou menos em 1400, porque as igrejas deste modelo, desta planta, foram todas feitas na era de 400. Em várias freguesias existem igrejas do mesmo estilo da Landeira. Quando ruíam pedaços da igreja, as pessoas não faziam nada. Hoje, só resta a fachada da igreja correspondente àquela época, o resto foi tudo reconstruído. Dentro da igreja existem azulejos da era manuelina.

A Nossa senhora da Nazaré, foi reconstruída duas vezes. A primeira foi no ano de 1906 e esta última vez, foi quando a igreja foi restaurada e a Santa também o foi, isto no ano de 1980. Da primeira vez que se restaurou a Igreja, para arranjarmos dinheiro suficiente levou cerca de dez anos. Eu bati à porta de toda a gente da aldeia, para eles me darem o que podiam. Até que eu fui à casa de um senhor, o fazendeiro do Zambujal, que logo se disponibilizou para dar o que os outros não podiam dar. Entretanto, veio o 25 de Abril e foi o que veio ajudar a Igreja e a Landeira. Foi no ano de 1976, que eu, as minhas duas filhas e com o Henrique Rosa, o Luís Caramelo e o Manuel Melo, fomos até Cabrela e fizemos um peditório, na altura deram-nos 25 escudos.

Como é que a Nossa Senhora da Nazaré se tornou padroeira da Aldeia?

Ninguém sabe como é que a Nossa Senhora da Nazaré apareceu na Landeira nem como ela começou a ser a padroeira da aldeia. Quando eu era rapaz, para mim todas as Santas eram a Nossa Senhora. Eu lidei muito com os padres, mas nunca estudei para ser padre, mas um dia, eu falava com o padre José Maria e perguntei-lhe qual a razão de cada terra ter uma Santa como padroeira. Então ele explicou-me que uma pessoa com genica e que se ajeitasse a fazer curativos com ervas ou coisas do género, quando morriam eram consideradas Santas, dando-lhes o nome das ditas curandeiras.

A fonte, a igreja e o cemitério têm algo em comum?

Naquele tempo, o que havia para as mulheres lavarem a roupa era o chamado pego, que era na fonte velha. A fonte velha e o cemitério foram construídos no mesmo ano, tem a mesma idade, foi no ano de 1897. A Landeira pertencia a Alcácer do Sal quando estas duas coisas foram construídas. Até lá, as pessoas eram enterradas no cemitério à volta da igreja. O crânio que se encontra dentro da igreja foi encontrado quando se canalizou a água junto desta.

As pessoas entendidas dizem que a caveira era de uma senhora talvez vinda desse cemitério à volta da igreja. Foram encontradas, também, várias ossadas no local.

Landeira, terra lusófona, o que me diz disto?

(RISOS) Existe o caso do Sr. Grilo entre mais uma mão-cheia deles. Chamavam-no assim por ele ser negro, semelhante a um grilo na cor. Um senhor de apelido Telha, disse-me que os pais do Grilo eram de Cabo Verde. Eles vieram para Portugal, como vieram muitos mais homens, para o trabalho do arroz, na Ribeira do Sado, em Alcácer do Sal. Foi o Marquês de Pombal, no reinado de D. José, que mandou vir a mão-de-obra de Cabo Verde, pois ao longo do rio Sado, morreram quase todos os trabalhadores com a Febre Tifóide e Meningite. Como existiam correntes de ar muito quentes no Sado, o clima era igual ao do país dos Cabo Verdianos. Como estavam habituados a este clima, aguentavam mais trabalhar nestas condições.

Na minha juventude, morreram muitas crianças, filhos de trabalhadores do arroz, com doenças. Tantos morreram que tiveram que criar u
m talhão no cemitério só para aquelas crianças. Este senhor Grilo, desceu de Alcácer para Setúbal para a Landeira e aqui ficou. Mais tarde veio a casar-se com a senhora Maria Custódia, que na altura era viúva onde nasceram seis filhos. Esta é uma família muito antiga da Landeira.

Espero que tenham gostado, na continuação deste mês mais postagens acerca da Landeira e das suas gentes serão publicadas. Muitas surpresas…

Ao Sr. Henrique Sertã o meu profundo agradecimento por esta tarde muito bem passada e acima de tudo por tudo o que fez pela Landeira, estas palavras devem ser tambem as palavras de todos os Landeirenses.



“Minha Terra”

“ É a minha terra a Landeira
Que tem a sua ribeira
Que vem do Sado a Cabrela
Esta aldeia tão catita
Cada vez está mais bonita
Por isso gosto mais dela...
Tem suas ruas empredadas
As casinhas bem caiadas
À volta umas florzinhas
Com os largos enfeitados
Os rapazes bem casados
Com as moças bonitinhas...
Também tem supermercados
E dois cafés asseados
Uma taberna, com fé
Ó minha querida Landeira
Tens por mote a Padroeira
A Senhora da Nazaré...”

Henrique Sertã, 1986

7 comentários:

Anónimo disse...

os caracteres aparecem desconfigurados....

Anónimo disse...

Excelente post , sem mais comentários .

Anónimo disse...

Excelente post! Que grande testemunho!

Anónimo disse...

_____BOM__FIM DE__SEMANA!
_____LET__THE__SUN__SHINE
______IN___YOUR___SMILE___
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Anónimo disse...

Mais um pouco da nossa história.
Nem só de criticas vive o blog, é bom!

Anónimo disse...

O Pedro Madeira faz hoje 15 anos! Parabéns Pedro!

Uma das formas de lhe demonstrarmos no dia do seu aniversário que estamos com ele, e que não esquecemos o seu talento, a sua simpatia e o seu bairrismo, será dar-lhe um empurrãozito neste desafio particular com o seu colega espanhol.

http://www.webvoter.net/se/vote.cgi?id=69605&language=1

Nesta fase, cada voto é apenas mais um estímulo para o Pedro. Há quem diga que este tipo de sondagens acaba por influenciar os potenciais votantes do dia do festival. Este seu actual segundo lugar acaba por honroso, mas nós queremos mais. Queremos acima de tudo ficar à frente de Espanha. Por isso, até 2 de Dezembro, vamos votar em Portugal, vamos votar na canção do Pedro.

Não esqueçam que o sistema só permite um voto em cada 24 horas, por computador. Basta abrir o pequeno rectângulo situado do lado esquerdo, por cima do quadro azul com os países participantes.

Feliz dia de aniversário Pedro. Conta connosco.

João Fialho disse...

Viva, caro Guilherme.

Excelente, este seu trabalho de divulgação da personalidade do Sr. Henrique Sertã.

Confesso que não o conhecia. Estas pessoas são credoras do nosso reconhecimento e apreço.

Continue ....