sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Fecho das Urgências de Vendas Novas - 24

O "Diário Económico online" publica hoje uma interessante crónica de opinião sobre esta questão das Reforma das Urgências. O seu autor - António Gaspar, Docente universitário e consultor, debruça-se especialmente sobre o caso das urgências "Vendas Novas/Montemor-o-Novo".


Aconselho vivamente esta leitura. (clique em "Continuar a ler...")


Avanços e recuos incompreensíveis


O que se passou entre Vendas Novas e Montemor-o-Novo é exemplo de incompreensão e falta de tacto na condução de reformas.

O nosso país há muito que espera por reformas profundas que de forma definitiva e inequívoca o façam caminhar no caminho do desenvolvimento. Temos assistido nos últimos tempos a vários passos dados nesse sentido. Administração Pública, Economia, Justiça, Ensino e Saúde, têm sido alguns dos sectores onde se tem caminhado, não obstante a celeridade e os resultados não se apresentarem ainda em linha com o que todos os portugueses esperavam.

A promoção de reformas mal explicada aos agentes implicados nesse movimento, implica geralmente uma atitude de dúvida, revolta e rejeição. Se aos motivos anteriormente referidos juntarmos a perca de alguns benefícios sociais que regra geral acompanham estes processos, veremos que ainda mais sensível se torna a comunicação destas alterações estruturais. Uma comunicação clara e transparente, quantificando as vantagens e a necessidade da reforma que se quer introduzir, é de facto a chave do sucesso. É factor crítico nestes processos, que os portugueses acreditem na boa fé de quem induz as reformas e que este alguém tenha a capacidade para falar verdade, para se fazer entender e para incutir confiança.

O que acontece é que por motivos inexplicáveis, nem sempre se verificam estes pressupostos de “boas práticas” e depois é inevitável o confronto, a manifestação de repúdio mais ou menos violenta e a instalação duma desconfiança aguda.

Um dos sectores que mais reformas tem registado é o da saúde. Fecham maternidades e urgências, aumentam os medicamentos sem comparticipação da Segurança Social, reduzem centros de saúde e muitas vezes sem uma explicação racional aos utentes.

O que se passou entre Vendas Novas e Montemor-o-Novo é exemplo de uma total incompreensão e sobretudo da falta de tacto como se devem conduzir as reformas. Um erro tremendo que nenhum vendasnovense irá perdoar.

Há cerca de dois meses foi decido pelo Ministério da Saúde, reforçar o centro de saúde de Vendas Novas, atribuindo-lhe novas valências – mais médicos, uma unidade de raio-x e outros meios de diagnóstico complementar. Reforçava-se Vendas Novas de forma a poder dar resposta aos utentes desta cidade e de Montemor. Tudo isto fazia perfeito sentido. O concelho de Vendas Novas tem mais habitantes que o de Montemor; Vendas Novas fica a 50 quilómetros do hospital distrital (Évora), enquanto Montemor se situa a 28 quilómetros do mesmo; existe pelo menos uma freguesia do concelho de Montemor que fica mais próxima de Vendas Novas e cujos habitantes a esta cidade recorrem nos cuidados de saúde; acresce ainda um conjunto importante de riscos que Vendas Novas suporta e que Montemor não tem e que passo a referenciar.

Vendas Novas suporta um polígono industrial onde diariamente trabalham cerca de 1.500 trabalhadores; é nesta cidade que está sediada a Escola Prática de Artilharia, com todos os elevados perigos de origem bélica que esta situação compagina; ainda nesta cidade conflui o movimento ferroviário das linhas do Alentejo e do ramal do Setil; por fim, referir que Vendas Novas possui um parque escolar frequentado por centenas de jovens. Por todo este conjunto estrutural de situações, justificava-se e exigia-se a programação que o ministério adequou.

Mas afinal o que se passou? Há cerca de três semanas, sem que nada o fizesse supor, o ministério veio dar o dito por não dito e mostrar a intenção de encerrar a urgência em Vendas Novas a curtíssimo prazo, transferindo para Montemor toda a logística pensada para Vendas Novas e anteriormente referenciada. Tal decisão deixou todos os habitantes do concelho incrédulos. Como foi possível a tomada desta decisão? Em que novos desconhecidos pressupostos, a mesma se baseou? Além de configurar um estrondoso erro estratégico e de alcance desconhecido, é um exemplo de como não se deve fazer uma reforma – mostrar uma clara desorientação perante os cidadãos.

Os vendasnovenses não compreendem o incompreensível. O Ministério ainda está a tempo de voltar à única situação que maior garantias fornece às populações dos dois concelhos vizinhos. A quem interessa verdadeiramente esta alteração de última hora? É a pergunta que todos os vendasnovenses colocam.

Avanços e recuos só desprestigiam quem os coordena.
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António Gaspar, Docente universitário e consultor

Nota do administrador do blogue:
Não corresponde à realidade dizer "O concelho de Vendas Novas tem mais habitantes que o de Montemor".

Obrigado ao nosso leitor Mário Pinelas, por me ter indicado este artigo.