quarta-feira, 7 de março de 2007

Fecho das Urgências em Vendas Novas - 32

CARTA ABERTA AOS VENDASNOVENSES


D

esde há cerca de um mês, temos vindo a debatermos com o problema do "Encerramento das Urgências em Vendas Novas". É um assunto de extrema importância para a nossa comunidade e que a todos diz respeito. Pelo que tenho observado, se as coisas continuarem a seguir o rumo actual, todos em Vendas Novas iremos ficar pior servidos em termos de serviços públicos de saúde. Se já não estamos bem, e a verdade é que não estamos, com o encerramento do SAP e a não instalação do SUB-Serviço de Urgências Básico na nossa cidade, então iremos ficar ainda pior. E a situação em que nos encontramos hoje, leva-me a concluir que não estamos a atingir os objectivos desejados. Estamos, aliás, muito longe disso. É tudo isto que está em causa.



Do ponto de vista institucional, que o mesmo é dizer, por parte dos orgãos representativos do município - a Câmara Municipal e a Assembleia Municipal, foi levado a cabo o que seria de esperar em casos como este. O executivo camarário, em reunião extraordinária que teve lugar logo no dia 2 de Fevereiro (o dia seguinte à notícia pública da proposta de não-atribuição de um SUB a Vendas Novas), tomou algumas decisões que considerou apropriadas a este caso. Por seu lado, a Assembleia Municipal, também reunida em Sessão Extraordinária no dia 8 de Fevereiro, aprovou alguns documentos igualmente em reacção ao mesmo acontecimento. Quanto aos orgãos representativos da freguesia - a Assembleia de Freguesia e a Junta de Freguesia, o seu papel é evidentemente nulo nesta questão, em virtude de ainda não estarem constituidos, passados que são dois anos da data das últimas eleições autárquicas. Apesar de tudo, podemos dizer que as instituições democráticas locais tomaram o papel que lhes cabe em reacção a esta infeliz proposta. Será isso suficiente? Claramente, não!

Do ponto de vista dos partidos políticos, já muito se disse e escreveu aqui no "Atribulações Locais" quanto às reacções e iniciativas que tomaram, tendo em vista a resolução favorável desta questão. Na prática, cada uma das estruturas politicas locais tem tentado, à sua maneira, dinamizar determinado tipo de influências tendentes a uma solução que não penalize Vendas Novas. Apesar de tudo, tenho imensa pena que, sendo esta uma questão mais política do que técnica, não se tenha desde o princípio tentado a união das forças políticas locais no sentido de falarem a sua só voz, ou seja, para que existisse verdadeira conjugação de esforços e capacidades, de forma a maximizar as probabilidades de êxito nesta causa que é de todos. Tenho pena, e acredito que muitos de vocês, meus conterrâneos vendasnovenses, sintam o mesmo. No fundo, todos acabamos por perder com isso, mas é a realidade que temos. Será isto positivo para a luta em causa? Absolutamente, não!

Por outro lado, para quem tem estado atento a esta problemática, tem sido fácil notar que o Sr. Presidente da Câmara Municipal - o responsável máximo da nossa autarquia, se tem desdobrado em reuniões e encontros, audiências e entrevistas, e todo um conjunto de iniciativas que são aquelas que cabem às funções que exerce. Parece-me que tem mantido este assunto como primordial na sua agenda e felicito-o por isso. Tem obtido os resultados desejados? Infelizmente, não!

Logo nos primeiros dias desta "crise" foi também criado um "Movimento de Cidadãos", o qual tem dinamizado determinado tipo de iniciativas, as quais conseguiram alguma adesão das populações e bastante divulgação em termos mediáticos. A criação deste movimento e a forma como tem funcionado apresenta contornos que, um dia, merecerão uma abordagem mais pormenorizada. No entanto, o que por agora importará a esta luta é o que de positivo o movimento tem ajudado a conseguir. Nesse particular, a meu ver este movimento tem funcionado essencialmente ao nível da divulgação desta causa na comunicação social. O que não é de somenos importância. Tem esse mediatismo sido suficiente para alertar e sensibilizar os responsáveis pela política de saúde? Não, de modo algum!

Perante tudo isto, passado sensivelmente um mês desde o anúncio público da não-atribuição de um SUB a Vendas Novas, qual é a situação actual? E a minha resposta é: estamos mal! Estamos muito longe de alcançar o objectivo principal que é, lembro, ter um serviço público de urgências a funcionar 24h/dia em Vendas Novas.

Mas porque chegámos aqui? No essencial, porque não conseguimos sensibilizar os responsáveis pela política de saúde da justeza da argumentação a favor desse objectivo. E a verdade é que nós próprios, vendasnovenses, não temos feito tudo o que podemos para ajudar a que tal seja conseguido. Essencialmente pela passividade, mas também pela falta de empenhamento nesta causa, e ainda pelo enorme défice de sentido crítico e de exigência em relação às instituições e aos responsáveis locais. Por tudo isso e também porque ainda não há, em Vendas Novas, a assunção de que somos uma comunidade unida em torno das questões essenciais ao nosso futuro colectivo. Simplesmente, porque não o somos. E contra isso ...

Chegados aqui poderemos perguntar-nos, todos nós que vivemos em Vendas Novas, o que pode ser feito para alterar o rumo dos acontecimentos? Bem, apesar do muito que já foi feito, e de algumas iniciativas já agendadas, a continuar assim, "não vamos a lado nenhum". E porquê? Porque a população já começou a interiorizar que não o vamos conseguir. Esse é um sinal que está patente em cada vez mais pessoas. Eu diria que já é uma reacção do dia-a-dia, prestes a generalizar-se. Ora, há que saber ler esses sinais, parar para analisar a actual conjuntura e redefinir estratégias. Os responsáveis políticos que não o fizerem, não estarão, a meu ver, a fazer tudo o que podem por Vendas Novas. Quando digo "responsáveis políticos", refiro-me a todos os que, de alguma forma, têm responsabilidades nos partidos políticos locais e nos diversos orgãos do município. Especialmente estes últimos, porque lhes está imputada a responsabilidade de representarem os interesses das populações e do concelho.

O que deve então ser feito? Em minha opinião, é urgente começar por despolitizar esta questão em termos locais. Isso, deveria ter sido feito logo a partir do primeiro dia. E não foi. Deste modo, em minha opinião não se deverá persistir no erro que tem sido a abordagem deste problema com enorme falta de união, por parte de alguns desses mesmos responsáveis. Há que saber criar condições para se utilizarem as sinergias políticas que derivam de se falar e de se apresentar em uníssono. O que deve ser feito em todas as reuniões, encontros, audiências e demais iniciativas em que seja importante mostrar aos responsáveis pela política de saúde que Vendas Novas está unida em torno desta questão. Para isso, há que ter a coragem de pôr verdadeiramente de lado os interesses partidários. Que não é, de modo algum, o que tem sido feito até agora.

Neste momento crucial, Vendas Novas precisa de quem faça tudo isto. De quem não se deixe ultrapassar pelas circunstâncias ou pela conjuntura. De quem não ponha eventuais interesses partidários à frente dos da comunidade. De quem tome as rédeas deste processo e não se enrede nas teias da politica local, manifestamente desajustadas dos interesses da população, no que a esta matéria diz respeito. De quem pare para pensar, para reequacionar procedimentos e redefinir estratégias. De quem consiga complementar o institucionalmente correcto com o verdadeiramente importante. Que é, apenas e tão só, gostar de Vendas Novas.

Em tudo isto, muito está ainda por fazer. Digo eu.


06.Março.2007
João Fialho

8 comentários:

bomdebola disse...

Vamos aguardar até à próxima segunda-feira pelos princípios orientadores do Governo para a assinatura do protocolo com a ANMP.

Ouvi hoje o Dr. Fernando Ruas afirmar que o seu acordo fica condicionado pelo cumprimento da promessa do Governo de que todas as populações dos municípios envolvidos nesta reforma sairiam beneficiadas. E que nunca dará o seu aval caso subsistam dúvidas.

Unknown disse...

Sr. João Fialho
Cumprimento-o e contemplo a sua capacidade de síntese e objectividade no que a esta questão diz respeito. Também eu me encontro preocupado e começo a acreditar que a população começa a desmobilizar.

Isto não pode acontecer. Não podemos deixar cair no esquecimento esta questão ou já perdemos um serviço muito importante para o Concelho.

Volto a lembrar: Todos os fins-de-semana, daqui para a frente, vamos encaminhar (20 vezes cada um) o e-mail da responsabilidade dos jovens de Vendas Novas sobre a questão e não deixar que o Ministério esqueça a nossa causa. PASSEM A MENSAGEM!

Mais acções se seguirão. Juntem-se a nós e acompanhem-nos nesta luta que ainda agora começou.

Melhores Cumprimentos,

Luís Dias

Anónimo disse...

Sr. meretissimo, desculpe mas não posso concordar consigo.
No meu caso pessoal, acho muito bem, os comentários anónimos só me afastaram até agora de escrever o que penso.
E saiba o senhor que tal como eu, muitas de nós afastávamo-nos pois não estamos para aturar pessoas mal educadas.
Eu pessoalmente concordo com a identificação dos comentadores.
Se for caso disso, pode saber-se quem escreveu o quê e só tem medo quem não está por bem, pois quem vinha dizer mal por dizer agora não virá.
Passe bem.

bomdebola disse...

Sobre a não permissão de comentários anónimos, concordo com o modelo agora adoptado. Estamos no início de um período experimental, não há que tirar para já conclusões precipitadas. Voltarei a este tema quando tiver uma maior disponibilidade de tempo.

Enquanto isso, seria bom não nos desviarmos do tema mais importante e mais envolvente no momento, que o nosso amigo João Fialho fez o favor de desenvolver, com o empenho e a clareza que todos lhe reconhecemos.

Ana Telha disse...

Caro João Fialho,

Aproeito para saudá-lo e a todos os colaboradores do AL pela ponderada e equilibrada decisão que agora tomaram.

Todos pudemos assistir durante vários meses ao aproveitamento por parte de vários comentadores do facto de se poderem esconder arás do anonimato.

Os grandes prejudicados com esta situação são, sem dúvida, aqueles que se identificam, tornando-se assim alvos fáceis para estes anónimos.

Espero sinceramente que este novo modelo tenha o sucesso esperado e que, finalmente, possamos todos ter um diálogo saudável sobre as questões de Vendas Novas.

Cumprimentos

Ana Telha da Silva

alentejodive disse...

Olá. Boa noite a todos.

Este modelo que agora estamos a experimentar, e que vai ficar assim pelo menos durante 1 ou 2 meses, tem as suas vantagens, que todos já percebemos.

Te como desvantagem a menor participação na caixa de comentários. Isso é um facto, que já espero e tenho como certo.

Mas também espero que essa desvantagem se vá atenuando com o tempo. Na prática, serão os leitores e os colaboradores a dizerem se querem ou não que este modelo persista.

Mas essa aferição será efectuada no fim do prazo estipulado, não antes disso. Até lá, espero que os nossos leitores continuem a encontrar razões para nos visitarem.

Um óptimo fim-de-semana para todos.

Anónimo disse...

O sr, meretissimo acha-se um grande intelectual, não acha?
Diga-me lá, não tem nada mais interessante para fazer na vida do que incomodar os outros?
Eu, por mim, já vi que você não tem nada para me ensinar; a sua postura é sempre negativa, não sabe olhar para o lado bom das coisas?

O iletrado disse...

Sem Saúde...


Pelo amor de Deus alguém me ajude!
Eu já paguei o meu plano de saúde mas agora ninguém quer me aceitar
E eu tô com dô, dotô, num sei no que vai dá!
Emergência! Eu tô passando mal
Vô morrer aqui na porta do hospital
Era mais fácil eu ter ido direto pro Instituto Médico Legal
Porque isso aqui tá deprimente, doutor
Essa fila tá um caso sério
Já tem doente desistindo de ser atendido e pedindo carona pro cemitério
E aí, doutor? Vê se dá um jeito!
Se é pra nós morrê nós qué morrê direito
Me arranja aí um leito que eu num peço mas nada
Mas eu num sou cachoro pra morrer na calçada
Eu tô cansado de bancar o otário
Eu exijo pelo menos um veterinário
Me cansei de lero lero
Dá licença mas eu vou sair do sério
Quero mais saúde
Me cansei de escutar...
"Doutor, por favor, olha o meu neném!
Olha doutor, ele num tá passando bem!
Fala, doutor! O que é que ele tem!?"
- A consulta custa cem.
"Ai, meu Deus, eu tô sem dinheiro"
- Eu também! Eu estudei a vida inteira pra ser doutor
Mas ganho menos que um camelô
Na minha mesa é só arroz e feijão
Só vejo carne na mesa de operação
Então eu fico 24 horas de plantão pra aumentar o ganha pão
Uma vez, depois de um mês sem dormir, fui fazer uma cirurgia
E só depois que eu enfiei o bisturi eu percebi que eu esqueci da anestesia
O paciente tinha pedra nos rins
E agora tá em coma profundo
A família botou a culpa em mim
E eu fiquei com aquela cara de bunda
Mas esse caso não vai dar em nada
Porque a arma do crime nunca foi encontrada
O bisturi eu escondi muito bem: Esqueci na barriga de alguém
Me cansei de lero lero
Dá licença mas eu vou sair do sério
Quero mais saúde
Me cancei de escutar...
Socorro! Enfermeira! Urgente!
Tem uma grávida parindo aqui na frente!
...Ninguém me deu ouvidos
E eu dei um nó no umbigo do recém-nacido
Mas o berçario tá cheio então eu fico com o bebê no meu colo aqui no meio da rua
E lá dentro o doutor tá botando o paciente no colo:
- "Por favor, fique nua!"
(Quê isso doutor?! Tem certeza?)
- "Confie em mim. É terapia chinesa. Tira a roupa!"
(Mas é só dor de dente)
- "Então abre a boca! (Ahhh) Beleza!"
(Ai, doutor, tá doendo!)
- "É isso mesmo, o que arde cura"
(Não! Pára! Não! Pára doutor! Não pára, doutor! Ai...
Que loucura!!!)
- "Pronto, passou, tudo bem. Volta na semana que
vem!"
Ela vai voltar pra procurar o doutor
Essa vai voltar, pode escrever!
Mas só daqui a nove meses, com um filho da consulta na barriga querendo nascer
Me cansei de lero lero
Dá licença mas eu vou sair do sério
Quero mais saúde
Me cansei de escutar...
Que calamidade!
Dos bebês que nascem virados pra lua e conseguem um lugar na maternidade
A infecção hospitalar mata mais da metade
E os que sobrevivem e não são sequestrados devem ser tratados com todo o cuidado
Porque se os pais não tem dinheiro pra pagar hospital uma simples diarreia pode ser fatal
- "Come tudo, meu filho, pra ficar bem forte"
(Ah, mãe! Num aguento mais farinha!)
- "Mas o quê que tu quer? Se eu num tenho nem talher?"

(Pô, faz um prato diferente, maínha!)
- "Eu ia fazer a tal da 'autopsia' mas eu não tenho
faca de cozinha!!"
Tá muito sinistro! Alô, prefeito, governador, presidente, ministro, traficante, Jesus Cristo, sei lá...
Alguma autoridade tem que se manifestar!
Assim num dá! Onde é que eu vou parar?
Numa clínica pra idosos? Ou debaixo do chão?
E se eu ficar doente? Quem vem me buscar?
A ambulância ou o rabecão?
Eu Tô sem segurança, sem transporte, sem trabalho, sem lazer
Eu num tenho educação, mas saúde eu quero ter
Já paguei minha promessa, não sei o que fazer!
Já paguei os meus impostos, não sei pra quê?
Eles sempre dão a mesma desculpa esfarrapada:
"A saúde pública está sem verba"
E eu num tenho condições de correr pra privada
Eu já tô na merda.

Gabriel O Pensador