quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Bifanas de Vendas Novas: uma instituição regional?

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Porque há tanta procura pelas Bifanas de Vendas Novas ? A resposta é simples: porque são bués boas! Bem, dirá o leitor, mas essa característica por si só não garante que um produto se consiga impor no mercado, pois não? Tem toda a razão, o que não falta são exemplos de bons produtos, com evidente qualidade, e que não tiveram êxito. E de boas ideias de negócios que se iniciaram com elevadas expectativas para, passado pouco tempo, terem de fechar portas. O que diferencia, então, o caso das nossas bifanas? Vamos lá tentar perceber.


Quando vim trabalhar para Vendas Novas (há mais de 20 anos), vivi alguns meses em casa do Sr. Costa e da Dª Joaquina, ali ao lado do Café Boavista - o mais antigo neste negócio, o qual pertencia ao Senhor Cardante (pessoa que muito estimava) e à sua esposa. E foi nessa altura que descobri este verdadeiro pitéu e me tornei consumidor reincidente ao longo de todos estes anos. Passou muito tempo em que apenas existia esse ponto de venda, o qual praticava horários alargados (abria logo a meio da madrugada e só fechava já noite dentro) e mantinha uma clientela assídua e bastante numerosa, especialmente aos fins-de-semana. Trata-se, a meu ver, de um daqueles casos em que o conhecimento e a visibilidade são passados de boca-em-boca ao longo dos anos, sem qualquer outro tipo de publicidade que não seja a reconhecida qualidade do
produto vendido. Julgo que todas estas particularidades se mantém hoje em dia.

Há uns anos, começaram a aparecer outros cafés similares, todos eles localizados na mesma zona da cidade. Primeiro a Chaminé , depois o Silva e o Cidade Nova e acredito que com o passar do tempo irão abrir mais alguns. O que aconteceu então, no sector das Bifanas de Vendas Novas, com o surgimento desta nova concorrência? Pois o que se passou foi um facto relativamente curioso em termos económicos: o aumento da oferta provocou, numa primeira fase, um acentuado aumento da procura. A qual, aparentemente, se tem mantido desde então em quantidades estacionárias. Onde antes víamos um só estabelecimento cheio de clientes, vemos hoje (em especial aos fins-de-semana) dois ou três nas mesmas condições. Também curioso foi o facto de estas alterações terem coincidido no tempo, pelo menos em parte, com a abertura da Auto-estrada (A6) que se temia viesse retirar trânsito a Vendas Novas, com eventuais consequências negativas em termos de procura pelas bifanas. A verdade, viu-se depois, é que tal não aconteceu da forma como se previa.

Para este aumento da procura, a meu ver muito terá contribuído um facto que aos nossos olhos pode parecer irrelevante mas que, neste sector, acabou por ter a sua importância. Falo do surgimento de um novo produto, que se revelou economicamente complementar às bifanas, e que lhe veio acrescentar o que hoje se designa por uma mais-valia: as sopas. E foi o surgimento deste novo produto - sopa + bifana, ao qual acresceu a bifana-no-prato, que até aí não constavam da oferta neste sector, que acabou por trazer um novo alento ao negócio e contribuiu em muito para o seu actual estádio de desenvolvimento. À sua escala, parece-me ser um bom exemplo de como uma pequena e aparentemente insignificante irrelevante alteração na estrutura da oferta, pode provocar um substancial acréscimo na sua própria procura. Muitas vezes, o que falta é imaginação (o tal olho-para-o-negócio ) que existiu neste caso.

Este sub-sector das Bifanas de Vendas Novas, que acaba por ser um nicho de negócio muito específico no sector da restauração, já contribui a vários níveis para a nossa economia local, por exemplo em termos de emprego e de valor acrescentado. E pelo que me apercebo, ainda apresenta muito boas condições para criar apetência nos empresários locais. De modo que, julgo eu, não tardará muito até à instalação de novos concorrentes. Só não percebo porque ainda tal não aconteceu.

Uma outra possível inovação nesta área, poderia ser levada a cabo através da transposição ou do aproveitamento deste negócio para o Franchising. Seria uma iniciativa algo inovadora em termos locais, que implicaria um determinado conjunto de procedimentos junto de entidades oficiais e uma disponibilidade financeira para arrancar com esse negócio, o que naturalmente não estará ao alcance de alguns eventuais interessados. Mas que é possível levar à prática e talvez merecesse uma análise aprofundada, pelo menos ao nível de um "Plano de negócios previsional". Nestas coisas, deveremos ter sempre em atenção que os grandes negócios começam normalmente por ser pequenos e que as marcas (aquelas que o conseguem) levam tempo a impor-se. E que, além do mais, o almejado sucesso vem sempre depois do trabalho, de muito trabalho (excepto no dicionário, como já dizia o Tio Olavo do Edson Athayde).

Agora que teve a paciência de chegar ao fim desta leitura, o amigo leitor merece um prémio, razão pela qual lhe aconselho o seguinte, vá ainda hoje com a família até à Boavista, e peçam: "uma sopa e uma bifana". Hoje pago eu .... se não se importam ....

10 comentários:

MouTal disse...

Eu desisti de comer bifanas fora de Vendas Novas, só comia barretes. Sou um comilão compulsivo da nossa bifana, e digo mais; "BIFANA SÓ HÁ UMA A DE VENDAS NOVAS E MAIS NUNHUMA".

Anónimo disse...

Efectivamente as nossas bifanas estão para ficar e ainda bem que assim é senão aquela zona já estaria invadida por mais algumas lojas de chineses. Não tenho nada contra os referidas, todavia, penso que a proliferarem como tem acontecido na nossa cidade levam à perda da nossa identidade e rebentam com o comércio local.
Mas, voltando às nossas bifanas, agora até ía uma por sinal só que moro longe do local, tá de chuva...eu também conheci o Sr. Cardante e tive oportunidade de falar com ele sobre o assunto e fiquei abismado com as toneladas de carne que transacionava.
Sabiam que a frigideira onde são confecionadas as nossas bifanas foi feita especialmente para o efeito?
Chegou a dizer-me que nem por mil contos vendia tal frigideira. Verdade verdadinha! E não estava a exagerar, outras pessoas testemunharam a nossa conversa!
Independentemente da qualidade das bifanas vizinhas e da mais valia da sopa aquelas são especiais, tem o tal sabor a que nos habituámos e que o Sr. Cardante referia que tinha a ver com a dita frigideira.
Amigo Fialho, fica a dever-me uma.
Saúde.

Anónimo disse...

E aqui está o exemplo de uma instituição nacional


www.youtube.com/v/HOHPt0t4sLQ

bomdebola disse...

Este é um caso de inquestionável sucesso empresarial entre nós.

Numa primeira e breve análise a este fenómeno de popularidade, entendo que muito do êxito da procura assenta essencialmente em quatro factores:

1.º- A qualidade do produto oferecido que se tem mantido elevado independentemente da quantidade;
2.º- O elevado profissionalismo, a simpatia e a capacidade de resposta dos colaboradores que servem os clientes;
3.º- A competição gerada pela proximidade física de vários estabelecimentos congéneres que motiva uma sã rivalidade entre eles, com evidentes benefícios para os consumidores;
4.º- A introdução da “sopa” na ementa tipo, que resultou como mais-valia e novo motivo de procura.

Anónimo disse...

Muito bem escrito, mas coloco aqui uma duvida sobre a questão do franchising... não seria melhor promover as bifanas a nivel local, com a colaboração dos proprietarios das casas, de modo a atrair visitantes para o concelho em vez de pensar em franchising para depois acontecer o que ja aconteceu a muitos produtos?? Como por exemplo o Frango da Guia ou outros que tais??

Agora deixo aqui um apelo,os proprietarios tambem devem colaborar, pois quanto sei no anterior festival de gastronomia a Camara fez uma tentativa de promover um Festival de Bifanas, mas a ideia caiu por terra, dado que os proprietarios das principais casas não se mostraram muito disponives! Quanto a mim era bom para eles e para a terra, mas ainda há pessoas que so conseguem ver em frente

Anónimo disse...

Este tema das Bifanas de Vendas Novas teve o devido destaque num dos numeros da excelente revista "Porta do Alentejo"; é só para lembrar.

João Fialho disse...

Na preparação para este texto, como é natural falei com vários amigos de Vendas Novas sobre o tema, para auscultar as suas opiniões. Acabaram, praticamente todas elas, por ir de encontro ao que eu já pensava sobre o assunto e que acabou por se resumir no que ficou agora publicado. Na verdade, conclui que é um tema pacífico em Vendas Novas, gerador de opiniões concordantes. Ainda bem que há temas assim.

Escrevi este texto por alturas do Festival de Gastronomia, quando me apercebi que tinha existido a intenção por parte da autarquia em dinamizar este sector sem que, no entanto, os respectivos empresários locais tivessem aderido de forma empenhada a tal iniciativa.

Ainda hoje não percebo porquê, mas lá terão as suas razões. Sobre issso, em conclusão, as autoridades fazem bem em tentar dinamizar este sector e se os empresários não colaboram, parece-me que só eles terão a perder no futuro.

Ao ter decidido dizer que o "Franchising" é uma outra possível inovação nesta área, o que quis dizer é que é apenas isso mesmo: uma possível inovação. Não se trata de apontar um caminho, nem defender que será preferível a outras alternativas. É uma possibilidade, que poderá ser rentabilizada e que está aí para quem lhe quiser ou souber pegar. Nada mais.

Mas também compreendo, com a maior das naturalidades, que para se desenvolver este sub-sector em Vendas Novas (e isso sim deve ser uma aposta e um objectivo a ter em conta), todas as iniciativas devem ser consideradas e apoiadas, desde que exequíveis e em estreita colaboração entre (e com) os diversos interessados. Se tais iniciativas partirem da autarquia, óptimo. Se resultarem de iniciativa dos próprios empresários, excelente.

Que mais não seja, para ajudar a desenvolver a vertente do turismo gastronómico, que é cada vez mais determinante num determinado tipo de actividade em que Vendas Novas também pode continuar a apostar.

Anónimo disse...

Acrescento mais, há uns meses atras dava um programa sobre turismo e culinaria na RTP2 aos sabados, ao fim da tarde, e houve um dos programas que foi sobre as nossas bifanas... temos que aproveitar e como alguem disse mais acima, fazer com qe traga mais gente a vendas novas, tal como o frango da guia como o amigo disse. Porque onde quer q eu vá e digo q sou de vendas novas dizem logo, a terra das bifanas, ninguem se esquece, e normalmente voltam cá sempre...

Anónimo disse...

Parece que vamos ter uma nova rotunda na Cidade.Como apreciador da " bifanita " - nunca fico só com uma quando lá vou - sugiro que no centro da nova rotunda a Câmara coloque uma bifana,bem grande,a condizer com a pipa da rotunda do Cruzamento de Pegões.

Anónimo disse...

Eu sou do tempo do Café Ribeiro, que funcionou até ao seu encerramento no Largo Serpa Pinto, cujo estabelecimento deu fama a V.Novas pelas suas bifanas,isto há mais de quarenta anos.O seu proprietário o Sr José Joaquim Ribeiro,deliciava os seus clientes com o também célebre " bife na frigideira com molho de café".
E quem é que se lembra das "febras do Zé Calção",em Bombel? Eram
os clientes que grelhavam as febras na lareira num ambiente verdadeiramente familiar.