sábado, 17 de fevereiro de 2007

Crónicas do Líbano (1)

Publicamos hoje uma contribuição muito especial. Trata-se de um texto (e fotos) do amigo e conterrâneo vendasnovense Capitão Artur Caracho, oficial de Pessoal e Logística da Companhia de Engenharia do Exército Português. Esta iniciativa partiu de uma ideia do nosso amigo e colaborador Mourato Talhinhas (Moutal).

O Capitão Artur Caracho [foto] encontra-se em serviço no Líbano desde Novembro de 2006, no âmbito de uma missão de paz e reconstrução de infraestruturas, que constitui o contributo que o Estado português disponibilizou para aquele país, a pedido da ONU.

Aqui no "Atribulações Locais" estamos sinceramente agradecidos por esta excelente colaboração.

Crónicas do Líbano
Fará no próximo dia 24 de Fevereiro 3 meses que se iniciou a missão da Unidade de Engenharia 1 no Líbano. A convite do Sr. Coronel Talhinhas aceitei escrever um pouco sobre o que tem sido esta experiência. Sei que este é um assunto que não tem directamente a ver com Vendas Novas, no entanto é algo desconhecido para quase todos, e talvez por isso possa ter algum interesse. Procurando não ser enfadonho vou procurar falar da minha vivência, as minhas impressões, das minhas pequenas histórias.



O Líbano é, pelas mais variadas razões, um país completamente diferente daquilo a que estamos habituados. Diria mesmo um país muito esquisito! Ao chegar não se sabia muito bem o que se ia encontrar. Apesar das muitas informações que nos foram disponibilizadas, não há nada como estar no local. Ao chegarmos a um país onde decorreu um conflito armado aquilo que esperamos encontrar é mar de destruição à nossa volta. Beirute foi o local de chegada. A primeira surpresa…uma cidade normal, igual a muitas outras! Com muita confusão, muito barulho, muita poluição, tudo o que uma grande cidade tem. Só o aeroporto estava vazio.

À medida que nos fomos deslocando para Sul fomos começando a perceber que a realidade era outra. A auto-estrada que vai de Beirute a Tiro tem todas as pontes e viadutos destruídos pelos ataques israelitas, pelo que sempre que aparece um destes obstáculos há que sair da auto-estrada e andar por verdadeiros caminhos cabras!!! Uma primeira curiosidade. Esta auto-estrada atravessa várias localidades… como se se tratasse de uma estrada normal, pelo que até se pode parar para ir a um café, ao supermercado, a uma loja, enfim o que quisermos.

Uma vez entrados na chamada Área de Operações (aquela que é ocupada pela UNIFIL) aqui sim o cenário de guerra está bem patente. As estradas principais apresentam imensas crateras provocadas pelos bombardeamentos. Por todo o lado se avistam casas destruídas, umas parcialmente, outras apenas em parte. É perceptível que os bombardeamentos foram, em muitos casos, cirúrgicos. São muitos os edifícios destruídos, em que à sua volta tudo permanece (aparentemente intacto). Na maior parte dos edifícios destruídos, sobretudo naqueles tipo vivenda há um pormenor “estranho”…não se vêem sinais do recheio desses edifícios.

Todos aparentavam estar vazios. Claro está que no meio dos escombros se conseguem por vezes vislumbrar alguns restos de material militar… Quanto mais para o interior, e consequentemente para as zonas montanhosas, maior é a destruição. Ai sim é possível ver aldeias em que não ficou uma única casa de pé. Um pouco por todo o lado é possível apercebermo-nos da existência de pequenos abrigos, na maioria destruídos.

Outro pormenor que faz deste país, tal como referi no início, um país esquisito, são as casas. Fora das cidades não há grandes edifícios. Há sim enormes vivendas, algumas verdadeiros palácios, mas quase todas por terminar. Umas habitadas, outras não, umas ainda em construção, outras nem por isso. A explicação? Bom, por um lado a população sabe que vive num país, e sobretudo numa zona desse país, onde mais cedo ou mais tarde vão haver novas guerras, por isso a probabilidade de tudo ficar destruído é grande. Por outro, grande parte da população tem como objectivo emigrar (embora na realidade muitos nunca o cheguem a fazer) e por isso não se preocupam muito em acabar as casas , apesar de, como referi, quando começam a construir uma a façam enorme. Para além de tudo isto, quando a casa está pronta, começam a pagar mais impostos, portanto a solução está em não a acabar. Não estou a falar da pintura da casa, falo mesmo de um andar ou de uma parte da casa. Aqui é assim!

O clima por aqui é extremamente irregular. Num dia está imenso frio, com neve nas zonas mais altas, no outro quase se pode andar de t-shirt. De noite, ai sim, a temperatura desce sempre muito. No verão parece que as temperaturas sobem muitíssimo, e segundo dizem é já a partir do mês de Março. A zona onde nos encontramos é extremamente montanhosa e ventosa. Posso dizer-vos que várias das tendas que temos tido montadas no interior do aquartelamento foram arrancadas pelo vento!

A paisagem é muito idêntica à da nossa Serra de Aire e Candeeiros, embora praticamente sem árvores. Talvez por isso a madeira seja um bem caro, e por vezes difícil de encontrar. Há quem diga que é o resultado das muitas guerras que por aqui se têm travado…pode parecer pouco convincente, mas uma coisa é certa, quando olhamos para o outro lado da fronteira, para Israel, a paisagem é completamente diferente, com árvores por todo o lado!
Um pormenor curioso é o facto de no local onde está montado o nosso aquartelamento podermos observar em simultâneo o Mar Mediterrâneo, e as montanhas cobertas de neve. Fantástico! Esta foi uma primeira imagem do Líbano. Vou procurar em próximas vezes descrever um pouco mais o nosso dia a dia, o povo, e claro, aquelas curiosidades com que sempre nos deparamos por onde quer que vamos.

Um abraço para todos.

5 comentários:

João Fialho disse...

Obrigado sincero ao amigo Artur Caracho por esta excelente contribuição.

O seu texto ajuda-nos a ter uma boa ideia do que é o Líbano hoje em dia. E as fotos são um óptimo complemento às suas descrições.

O pessoal do "Atribulações Locais" envia um abraço amigo ao Artur Caracho e a todos os seus companheiros nesta missão.

Que tudo lhe continue a correr pelo melhor.

Anónimo disse...

Alguns links para se ver o pais que temos:

http://www.oprimeirodejaneiro.pt/?op=artigo&sec=e4da3b7fbbce2345d7772b0674a318d5&subsec=&id=2dec297c1aa9ff4683ae640263c18802

http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=775517&div_id=

Vejam as fotos do link anterior

Uma forma de protesto que poucos tem coragem de tomar:

http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=775448&div_id=291

Isso é que é falar:

http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=23049

Tudo a toque de mocada, grande democracia:

http://dn.sapo.pt/2007/02/19/sociedade/protesto_contra_fecho_urgencia_corta.html


Vamos ver o que acontece em Vendas Novas

Anónimo disse...

Um dos argumentos para o fecho das urgenciuas em Vendas Novas é a deslocação ddas pessoas de Montemor para Vendas Novas para depois andar para trás de novo para ir para Évora, no caso de Valença que no anterior relatorio ficava com SUB acontece exactamente o contrario as pessoas vao para Monção e depois voltam para Viana do Castelo o que nao aconteceria se tivessem mantido Valença.

Porque esta dualidade de criterios???

Dá que pensar não é??

Anónimo disse...

Há por aí alguém que esteja na disposição de oferecer um mapa de Portugal a este anónimo anterior?
A ignorãncia do povo é um espento, como dizia Jô Soares (o gordo)!
Se tivesse tido o cuidado de ler os comentários anteriormente aqui colocados, pelo menos neste matéria, seria um mestre!
Ainda está a tempo, mas olhe que é exactamente ao contrário daquilo que afirmou!

Anónimo disse...

Entao explique lá como se eu fosse muito "ignorante"????